Salve glorioses. Ao longo desse ano dedicado aos povos originários aqui na Quarta Gloriosa, assunto não tem faltado. Com surpresa e satisfação, temos assistido uma espécie de renascença à brasileira, com a explosão de manifestações artísticas e culturais, trazendo a luta pela preservação de sua cultura e pelo reconhecimento de seus direitos, enquanto povos originários, sob variadas formas. Aqui, já falamos sobre fotografia, audiovisual, rádio, rap, e hoje trago o nome de Djuena Tikuna, que leva em sua cantoria a sua história e a de seu povo, buscando, ao mesmo tempo, ser resistência e exemplo aos jovens indígenas.
Djuena é da nação Tikuna, a mais numerosa do país. Nasceu na Aldeia Umariaçu II, município de Tabatinga (AM), bem na divisa do Amazonas com a Colômbia e o Peru. Entre os Tikuna, a cantoria é parte essencial do cotidiano, principalmente nos rituais, tendo cada som um significado. As mulheres, ainda na gestação, cantam para os filhos prestes a nascer. Sendo uma maneira de orar, é também uma forma de manter viva a sua história.
Ainda pequena mudou-se para Manaus. Na cidade, onde estudou, conheceu também o teatro, experimentando outras maneiras de expressão. Através do teatro, foi transportada diretamente para as memórias da infância, quando redescobriu sua paixão pela música. Encenando “Antes quando o mundo não existia”, um mito indígena adaptado pela Companhia de Teatro Vitória Régia, subiu ao palco pela primeira vez, aos 14 anos. Muitas águas rolaram e Djuena formou-se Jornalista, sendo a primeira indígena jornalista do estado.
Naquela época ela não podia imaginar que viria a ser também a primeira indígena a se apresentar no Teatro Amazonas, o imponente teatro que foi construído durante o ciclo da borracha, ao final de 1800, num dos períodos de maior devastação das florestas brasileiras e do povo Tikuna. Pois foi no palco desse mesmo teatro que a jovem, então com 33 anos, subiu para lançar seu primeiro disco, cantado inteiramente em língua tikuna – Tchautchiüãne (Minha Aldeia), em 2017.
No ano seguinte, recebeu com orgulho a indicação na categoria “Melhor Artista Indígena Internacional” do Indigenous Music Awards, tornando-se a primeira artista oriunda da Amazônia brasileira a ser nomeada para o prêmio, que aconteceu em Winnipeg, Canadá. Na sequência, participou do clipe da música Earth Child, do cantor e ator japonês Yusuke Kamiji, e investiu em uma parceria com o violonista e cacique Robson Miguel.
Como seu nome mesmo indica, Djuena (“onça que atravessa o rio”, em idioma Tikuna) tem vivido a expansão de seus horizontes através de sua cantoria e, pelo visto, a sua jornada está apenas começando.
Um beijo e até a próxima Quarta Gloriosa!