No último dia 24, o instituto J Leiva Cultura & Esportes, em parceria com o Datafolha e apoio do Ministério da Cultura, divulgou o estudo “Culturas nas Capitais”, que busca delinear o perfil dos hábitos culturais do brasileiro e quais os produtos e eventos mais consumidos no país. Foram ouvidas 10.630 pessoas nas 12 capitais mais populosas: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte, Manaus, Curitiba, Recife, Porto Alegre, Belém e São Luís.
Com 55 perguntas, a pesquisa cujos dados foram coletados ao longo em 2017, revelou que os hábitos culturais mais populares são, em ordem de preferência: livros, cinema, shows, festas populares, feiras de artesanato, bibliotecas, dança, museus, teatro, circo, saraus e concertos de música clássica.
A pesquisa não só define os produtos culturais mais consumidos, como o perfil de quem consome. E é a partir desse recorte que podemos compreender como se dá a distribuição cultural em nosso país. Das 12 atividades, os homens lideram como público em 9. Em todas, o ensino superior aparece como perfil que mais consome cultura. A partir da orientação sexual, o público LGBT lidera como público igualmente em todas as 12 atividades culturais. Por condição econômica, a classe A lidera em quase todas as categorias, perdendo apenas para classe B no público do circo. Jovens de 16 a 24 anos são os que mais consomem livros, cinemas, shows, museus, teatro e saraus, enquanto público de 35 a 44 lidera em festas populares e feiras; crianças de 12 a 15 em bibliotecas, dança e circo. Já concertos de música clássica têm como público predominante maiores de 60 anos.
Um dado interessante é quando observamos os gráficos a partir da religião. Pessoas que não possuem religião ou a categoria outras, espíritas e afro-brasileiras dividem os três primeiros colocados em todas as 12 categorias. “Outras ou não tem” lideram em 6, espíritas em 4 e afro-brasileiras em 3. A pesquisa também faz um parâmetro a partir da exclusão, considerando o perfil que menos têm acesso à cultura. Sob essa perspectiva, define-se: quem só fez ensino fundamental, é da classe D/E e tem mais de 45 anos. 66% dos entrevistados nunca assistiram música clássica, enquanto cerca de 1 terço da população nunca foi ao teatro ou museu.
Um panorama sobre os hábitos culturais do brasileiro
O que podemos refletir a partir do estudo é que, apesar de informações importantes como o livro sendo um produto mais consumido que shows ou cinema, os gráficos revelam uma ainda extrema desigualdade em nosso país. Temos ainda um perfil privilegiado no acesso a cultura: homens com ensino superior e de classe A e B. Esse é o brasileiro que mais consome cultura no Brasil. Um gancho urgente para continuar o debate sobre diversidade e intensificar o apoio à distribuição e valorização da cultura popular. Ao portal O Globo, diretor da consultoria JLeiva Cultura & Esporte João Leiva comentou:
“De um lado, fica clara a importância da cultura na vida dos brasileiros que vivem nas 12 capitais pesquisadas. São mais de 20 milhões de pessoas que frequentam os cinemas, 15 milhões que vão a shows de música, 10 milhões que assistem a peças de teatro, 10 milhões que visitam museus e por aí vai. Mas por outro lado, o percentual de pessoas que nunca na vida tiveram a oportunidade de ir a um teatro, a um museu ou a um show de música também são impressionantes: 12 milhões, 10 milhões e 7 milhões, respectivamente. Não são pessoas que não foram no último ano, mas que nunca foram.”
O que preocupa é dados como estes ainda serem realidades nas maiores capitais do país, principais pólos de distribuição cultural mas que ainda concentram a desigualdade. Pelo interior, onde a oferta ainda é menor, como é o consumo à cultura?
No portal da pesquisa podemos observar todos os gráficos a partir, também, do estado conjugal, número de filhos e acesso à internet. Em todos os cenários fortalece a certeza da desigualdade. Há ainda um perfil enraizado no Brasil de que só se consome cultura os que podem, mas não todos os que querem.