Salve, glorioses. Seguindo a proposta de trazer luz sobre a vivência e as práticas dos povos originários aqui na Bemglô, no “Mês das Mães”, é hora de conhecer como é a maternidade indígena. Se por um lado temos o pensamento popular de que “mãe é tudo igual“, a realidade sempre se impõe, guardando importantes diferenças também nessa prática. No Brasil vivem mais de 300 povos, e esse é o tamanho da sua diversidade! Um ponto em comum é o contato com a natureza.
Diferente da cidade, o crescimento da mulher acontece em sintonia com o meio ambiente.
Entre os Guarani, na primeira menstruação, a menina passa por um período de resguardo, sem sair de casa ou trabalhar, e com uma dieta super rigorosa sem gordura ou açúcar; tudo para que o corpo seja preservado nesta transformação que é a puberdade.
A partir daí, em muitas culturas, o ciclo menstrual acompanha as fases da lua. A cada lunação completa, 28 dias, chega um novo ciclo. E com todas nós poderia ser assim sem o descompasso que a cidade traz ao nosso corpo.
A vivência do feminino entre os mais diferentes povos é um processo profundo de autoconhecimento, banhado em chás e ervas em um grande ritual. Com a gravidez, também.
Entre os Kamayurá, por exemplo, a mãe é cuidada à base de medicinas naturais antes, durante e após o parto. No quinto mês, começam a ingerir chás que aumentam o líquido amniótico, que envolve o bebê. Para a dor do parto, raiz de algodão preparada pela própria mãe.
O parto em si também é um ritual sagrado. Entre os Tapayuna, sem a presença de homens; o rito é exclusivamente feminino. Mas entre os Dessana é o marido e um homem de confiança, como um irmão, os responsáveis por segurar a mãe na posição de cócoras. Eles estão alí para dar sustentação física e também emocional.
Vale lembrar que muitas comunidades têm acompanhamento do Sistema Único de Saúde e acesso a hospitais quando necessário, mas, tradicionalmente, o parto é normal e os pajés são os responsáveis pelas rezas que vão garantir a saúde do bebê e da mãe.
Da mesma forma que não vivem sob o conceito de propriedade, a criança vem ao mundo, é filha da comunidade. Por isso, entre os Guarani, além da mãe, todas as mulheres da aldeia cuidam das crianças e todas são igualmente importantes.
Entre os Kaingang também, e todas as mulheres são consideradas mãe juntas. Ainda que nunca tenha parido, a mulher vivencia a maternidade ao cuidar dos irmãos, dos sobrinhos, dos filhos da aldeia. As mulheres se cuidam, dividem os afazeres, inclusive amamentam os filhos umas das outras.
Essa maternidade partilhada, nos ensina muito. Ser mãe é, ao final de tudo, muito mais do que parir. Ser mãe é criar. E ainda contar com uma rede de apoio.
Creio que o que mais podemos aprender com as mães da floresta é a celebrar o milagre que acontece no corpo feminino, a cada mês, e tudo o que envolve a importante tarefa de criar novos indivíduos. A comunidade entende a importância de cuidar das mulheres desde a puberdade, preparando para que estejam sadias para viver a gestação, tendo o apoio e a sabedoria de outras mulheres . Esses ensinamentos ancestrais também nos alertam para nossas necessidades, tantas vezes atropeladas pelas práticas que nada preservam a nossa saúde.
Para os Tapayuna, a troca com o outro é o centro da vida, e as mulheres, as mães, são aquelas responsáveis por dar a vida e garantir a sobrevivência de toda a comunidade. Por isso, a maternidade é sagrada e deve ser honrada por todos.
A Revista AzMinas esteve na 10a edição do Aldeia Multiétnica na Chapada dos Veadeiros e captou alguns relatos sobre maternidade:
E para você, o que é ser mãe?
Um beijo e até a próxima Quarta Gloriosa!