A Fundação Nacional do Índio (Funai) apresenta protagonismo importante na Campanha Abril Indígena de 2022, ano em que o Brasil celebra o Bicentenário da Independência. Atenta aos preceitos constitucionais de respeito aos costumes e tradições de cada etnia, contribuindo para a autonomia e independência das comunidades, durante todo o mês de abril, está sendo publicada uma série de reportagens especiais nos canais oficiais da Funai, dando protagonismo ao trabalho e a vontade de indígenas que querem mudar a realidade de suas aldeias. Temas como educação e cultura, e o etnoturismo são abordados por meio dessas histórias. Aliás, o etnodesenvolvimento tem possibilitado aliar nas comunidades indígenas, autonomia, geração de renda e sustentabilidade para um país que abriga cerca de um milhão de indígenas e mais de 300 etnias.
Acampamento Terra Livre
Após dois anos de atividades online devido à pandemia, recentemente a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) realizou presencialmente em Brasília a 18ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL), considerada a maior mobilização indígena do país, tendo como tema “Retomando o Brasil: Demarcar Territórios e Aldear a Política”. No mesmo período em que o Congresso Nacional e o Governo Federal pautam a votação de projetos que violam os direitos dos povos indígenas. O evento teve dez dias de programação e mais de 40 atividades enfocando o enfrentamento da agenda anti-indígena, a população LGBTQIA+, a educação e saúde indígena, entre outros temas pautados.
Macunaíma
“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma”.
Lembro de Macunaíma, de 1928, romance modernista de Mário de Andrade que conta a história do personagem, Índio nascido na Floresta Amazônica, que depois de perder seu amuleto, a muiraquitã dada por sua companheira, a Mãe do Mato, decide viajar até a cidade de São Paulo para o recuperar. Entre a Floresta Amazônica e São Paulo, a trajetória do “herói sem caráter” quase se torna um romance de formação, e mistura, digere antropofagicamente elementos da cultura indígena e afro-brasileira, atravessados por lendas e mitos indígenas e folclóricos. No livro, que recomendo muitíssimo neste ano de comemorações relacionadas ao modernismo, há um diálogo com textos etnográficos, literários e sociológicos. Mário, de certa maneira, apresenta/representa uma identidade nacional em uma invenção literária com pesquisa científica.
O eterno retorno
Aqui e agora, em abril de 2022, a causa, a luta indígena se [re]constrói com a redescoberta e urgência de uma brasilidade ancestral e genuína. Como a imagem nietzschiana do eterno retorno, da volta às origens, para um novo e outro aprendizado. Afinal de contas, não podemos esquecer que Macunaíma é o herói que, por pirraça, tenha quiçá como característica principal a recusa ao aprendizado, mas que continua até hoje – multiplicado em cada um de nós – [des]aprendendo sua existência.
E aproveito o ensejo para me despedir da Coluna de Arte, Cultura e Comportamento da Bemglô, que me acolheu durante mais de dois anos na costura poética desses breves textos. Agradeço imensamente a Gloria Pires, Betty Prado e Thamy Sol pelo apoio e confiança. Axé!