Joênia Wapichana, primeira mulher indígena no Congresso
Quarta Gloriosa

Joênia Wapichana, primeira mulher indígena no Congresso

Joênia Wapichana, primeira mulher indígena no Congresso

Salve, glorioses. No último domingo tivemos o Dia do Índio, quando celebramos a cultura e lembramos das lutas indígenas; e hoje é o Dia da Terra, que também nos alerta para a preservação. A história que compartilho é de uma mulher que muito tem a ver com ambas as datas.

Joênia Wapichana é a primeira mulher indígena a ocupar um assento no Congresso Nacional em Brasília, a primeira a se formar em Direito e também a primeira a exercer a profissão de advogada.

Sua trajetória começa em 1974 na comunidade indígena Cabeceira do Truarú, região do Murupú, zona rural de Boa Vista (Roraima). Ela viveu junto ao seu povo Wapichana até os oito anos de idade, quando sua mãe migrou com as filhas para a zona urbana. Era muito comum naquela década a mão-de-obra indígena na cidade. Lá ela aprendeu o português (é falante nativa da língua wapichana da família Aruak) e iniciou os estudos formais.

A faculdade veio junto de muito esforço enquanto cuidava do filho da irmã já falecida, em uma época sem cotas ou ajuda de custo. Formou-se em 1997 pela Universidade Federal de Roraima sem saber que era a primeira indígena a realizar tal feito.

Apesar de manter contato com sua aldeia, foi na cidade e através de sua formação que encontrou meios de proteger seu povo. Entre as conquistas, ela foi a primeira indígena a fazer uma sustentação oral (quando advogados apresentam suas alegações em um julgamento) no Supremo Tribunal Federal ao defender a homologação contínua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em 2008. Foi nessa época que teve sua primeira projeção nacional.

Quando a Ordem dos Advogados do Brasil fundou a Comissão de Direitos dos Povos indígenas da OAB em 2013, Joênia foi sua primeira presidente. E essa sequência de “primeiras vezes” na luta pelos povos indígenas, não só na militância mas dentro das instituições, levou Joênia Wapichana à cadeira de Deputada Federal em 2018 com mais de 8 mil votos para representar Roraima.

A eleição de Joênia foi a primeira de uma mulher indígena ao cargo, mais de 20 anos depois de Mário Juruna, eleito em 1982. Na mesma época de sua eleição, Joênia recebeu o Prêmio de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).

Nos últimos dois anos, Joênia tem sido uma representação fundamental criando ponte entre a Câmara dos Deputados e lideranças indígenas como Sonia Guajajara e Raoni Metuktire. Foi através de suas mãos que o Manifesto de Piaraçu (falei aqui!) chegou à presidência da Câmara. E essa tem sido uma parceria também importante.

No site de consulta pública, conseguimos acompanhar todos os seus passos. E como é importante vê-las em grupos tão simbólicos como a frente em Defesa dos Povos e Comunidades Tradicionais; da Democracia e dos Direitos Humanos com Participação Popular; e dos Povos Tradicionais de Matriz Africana.

Quando eleita, Joênia pôde escolher o seu gabinete e escolheu o de número 231. Não à toa, o Artigo 231 da Constituição Federal diz:  “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.

Um beijo e até a próxima Quarta Gloriosa!


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