A cana faz parte da nossa identidade. Doces bem doces e um gole de cachaça fazem parte da vida na roça e também de muitos nas cidades no Brasil. Doce e cachaça podem não combinar juntos, mas ambos costumam acontecer em algum um momento de relaxamento, geralmente no fim do dia e a noite. Bares e botequins ficam cheios ao entardecer. A primeira dose de álcool relaxa. Mas as seguintes podem ser imprevisíveis.
O doce relaxa e chama um grande público às padarias, confeitarias e delicatessens. O doce eleva a serotonina, o chamado hormônio da felicidade, e ameniza por uns 15 minutos os conflitos emocionais. Passando o efeito da serotonina, voltam-se os conflitos e a realidade. O doce pode ser viciante, dá um prazer imediato, mas não resolve a ansiedade e além disso causa inflamações em vários órgãos como fígado, pâncreas, vesícula biliar, coração, artérias. Doces aumentam a gordura abdominal. O doce enfraquece o colágeno da pele e das articulações.
Temos estreitos laços com a cultura açucareira e talvez por isso o nosso apego ao sabor doce. A cana de açúcar, foi oficialmente trazida ao Brasil em 1532 por Martim Affonso de Souza na capitania de São Vicente. A partir daí os engenhos de açúcar se replicaram, no nordeste principalmente nas capitanias de Pernambuco e da Bahia.
Grandes fazendas de cana por onde passaram escravos e posteriormente imigrantes italianos deixaram traços de suas histórias culinárias incorporadas aos habitantes locais.
Calcula-se que naquele período da história, a exportação da cana de açúcar rendeu ao Brasil cinco vezes mais que as divisas proporcionadas por todos os outros produtos agrícolas destinados ao mercado externo.
O Brasil passou a monopolizar a produção mundial açucareira com Portugal e Holanda comercializando o produto. A Europa passou a ser grande consumidora de açúcar.
Regiões produtoras, especialmente as cidades de Salvador e Olinda prosperaram rapidamente. A cocada (açúcar mais coco) se popularizava em Salvador. Bolo de rolo (com recheio bem doce) se popularizava em Pernambuco. Rapadura e melado faziam parte das cozinhas no interior.
D. Pedro II, era um entusiasta das novas tecnologias e em 1857 foi elaborado um programa de modernização e abertura de Engenhos Centrais entre eles em Quissamã e na região de Campos. Estas regiões hoje primam por ter doces bem doces como compotas, doces de laranja, pingos de leite, que vendem na beira das estradas devido a influência da cultura açucareira na região.
No final do século XIX com a libertação da escravatura, o governo incentivou a vinda dos europeus. Imigrantes italianos adquiriram suas terras e em grande parte optaram para produção de aguardente. Os italianos em sua maioria montaram engenhos nas regiões de Campinas, Itu, Mogi-Guaçu, Piracicaba, Ribeirão Preto. A cachaça da região ficou famosa.
O tempo passou, o Império acabou, mas o doce e a cachaça ficaram. Durante séculos adquirimos o hábito de usarmos muito açúcar. Outra grande parte da população é consumidora de cachaça. São produtos da mesma planta que podem até serem vistas como drogas, mas que sabendo dosar, pode-se temperar a vida. Basta lembrarmos que tudo pode, mas “Nada Muito”.