alguma coisa acontece no coração de sp: conheça a Horta D. Alice
Atitude Bemglô

alguma coisa acontece no coração de sp: conheça a Horta D. Alice

alguma coisa acontece no coração de sp: conheça a Horta D. Alice

movimento; terra; luta; coração; vida;

 

“Quem não luta, tá morto!”
A parede de cores vivas e que sustenta palavras tão fortes, é a porta de entrada para a Ocupação 9 de Julho, no coração de sp. Quando o seu portão se abre, a primeira coisa que se vê são duas árvores imensas, e logo atrás, o antigo prédio do INSS se mostra: grande e vivo, assim como as árvores que o antecede.

O prédio que ficou abandonado pelo Estado por mais de 20 anos, foi revitalizado pelas mãos dos militantes do Movimento dos Sem Teto do Centro, o MSTC, liderado por Carmen Silva e coordenado por mais outras mulheres. Só no prédio da 9 de Julho, são 129 famílias que moram e participam ativamente da “Ocupa”. O prédio não tem piscina aquecida, academia com personal trainer ou arbustos lenhosos espalhados pelo pátio, como os edifícios ao seu redor possuem, mas, em seu corpo de 14 andares, guarda espaços como galeria de arte, oficina de costura, brechó, marcenaria, brinquedoteca, cozinha comunitária e a administração. Em seu pátio abriga grafites dos mais diversos artistas, quadra esportiva, a Horta D. Alice e um bosque de mudas da Mata Atlântica.

Assim como o prédio voltou à vida depois do abandono, todo seu redor também foi curado. O espaço da Horta D. Alice, que outrora foi um amontoado de entulho, se torna território de de comida orgânica e também sem fronteiras: com as verduras colhidas na horta, mais os alimentos orgânicos do Movimento Sem Terra, todo domingo essa parceria se transforma quentinhas pelo projeto Lute Como Quem Cuida , na Cozinha 9 de Julho. A cada quentinha vendida, uma outra é doada para um dos 150 núcleos parceiros do Movimento.

Mas a horta não se ergueu sozinha, ela tem história! Carrega o nome de Dona Alice, uma moradora muito ativa do MSTC, que faleceu alguns anos atrás. Como se dedicava muito à causa, a horta traz seu nome como homenagem e como forma de mantê-la viva no Movimento. Dona Irene, a porteira que sempre nos recebe, se dedicou muito tempo à horta, mas hoje seu negócio é com o restante do paisagismo do pátio – um capricho que só vendo! Quem comanda as enxadas nos finais de semana é Seu Vanildo, que plantou as mudas das primeiras verduras da Horta D. Alice. Vanildo compara a terra com o coração: “é necessário tirar as ervas daninhas, as pedras, para que dê frutos”. E foi literalmente o que ele fez:

 

E se a horta é livre de veneno, como é nutrida?

Em coletivo, os moradores da Ocupação 9 de Julho projetaram uma composteira. Os restos de alimentos dos almoços produzidos pela Cozinha 9 de Julho vão para a composteira, que aduba a Horta D. Alice e, depois volta para a Cozinha em forma de alimentos – e repito – sem veneno algum.

Com a terra fértil da 9 de Julho, o artista Rafael Ribeiro e as crianças da Ocupação, usaram técnicas de restauração florestal, transformaram uma área ociosa em um bosque com quase 100 mudas de árvores nativas da Mata Atlântica. Árvores essas, que antes da invasão do asfalto, emolduravam o rio Saracura, que hoje sobrevive sob a Avenida 9 de Julho. No centro desse bosque, foi construída uma Clareira: um ponto de encontro para os moradores e visitantes da Ocupa. Essa ação fez parte da exposição O que não é floresta é prisão política, da Galeria Reocupa, que fica no térreo da Ocupação.

Só no ano de 2020, mais de 493 novos agrotóxicos foram liberados no Brasil. A Ocupação 9 de Julho vem na contramão e se propõe a gerar alimentos sem veneno, em uma ocupação no centro de São Paulo.

Enquanto nos anos de 2018 e2019 houve um aumento de 27,2% desmatamento da Mata Atlântica (cerca de 14.502 hectares de floresta devastados, mais ou menos 14 mil campos de futebol) o solo da Ocupa recebe pelas mãos de suas crianças mudas das mesma árvores que o agronegócio derruba. O Movimento une moradia digna, segurança alimentar, lazer, arte, cultura, respeito ao meio ambiente e ao ser humano, educação social e solidariedade em um espaço que um dia foi abandonado.

Foi pelas mãos de trabalhadores de menor renda que no coração de sp, um lugar negligenciado voltou a correr tanta vida.

Eu queria poder entrar na Ocupação 9 de Julho pela primeira vez de novo. Entender o que é resistência na imagem de duas árvores e um prédio que continuam vivos porque famílias vivem ali, porque pessoas cuidam desse corpo de 14 andares, porque crianças plantam mudas em seu solo. Como já passei por esse primeira experiência, espero que em uma melhor hora – depois da pandemia – você possa também conhecer esse lugar. Quando em seu pátio voltar a pulsar as batidas de todas as músicas, o encontro de todos os povos e que se faça valer a vida em sua melhor forma: vivendo.

Enquanto o vírus não dá trégua, você pode pedir sua quentinha aos domingos e lembrar porque tanto se fala que a cozinha é o coração da casa! Toda semana um novo menu, um novo chef preparando uma comida saudável e muito gostosa. O que não muda é o carinho e a vontade de fazer mudança. No perfil Lute Como Quem Cuida tem mais informações!

E como diz Dona Carmen: QUEM NÃO LUTA, TÁ MORTO!

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