Em junho de 1969, em Nova York, um acontecimento desencadeou o movimento pelos direitos dos homossexuais. Há 51 anos, um grupo de gays, lésbicas e trans estava reunido no bar Stonewall Inn quando foram surpreendidos por uma batida policial para prender clientes por “conduta imoral”. A repressão policial na época era comum em ambientes frequentados pela comunidade – hoje conhecida como – LGBTQIA+. Bares como o Stonewall passavam por vistorias da polícia frequentemente, mas no dia 28 daquele mês, uma dessas batidas policiais resultou em violência e drag queens e travestis foram presos por vestirem roupas do sexo oposto.
Naquela ocasião, naquela madrugada e nas duas noites seguintes, os frequentadores do bar resolveram reagir com o apoio de simpatizantes para um levante contra a perseguição policial. Uma multidão se concentrou fora do bar e Stonewall entrou para a história e deu origem ao Dia do Orgulho Gay. Vale lembrar que naquela época a lei norte-americana considerava a homossexualidade como crime, como infelizmente ainda é em diversos lugares. Segundo estatísticas de dezembro do ano passado, a homossexualidade ainda é crime em 69 países do mundo.
As Paradas
Se nos EUA as paradas do orgulho LGBTQUIA+ existem desde a década de 1970, no Brasil, o primeiro ato ocorreu apenas há 26 anos, em 1995, no Rio de Janeiro. Foi durante a 17ª Conferência da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersex, que acabou com uma pequena marcha na praia de Copacabana. No ano seguinte ocorreu um ato com cerca de 500 pessoas – segundo estimativas da época – na Praça Roosevelt, em São Paulo. Mas foi só em 1997 que foi realizada a primeira Parada Gay na Avenida Paulista, quando diversos grupos em prol das causas LGBT começaram a se reunir para organizar uma marcha anual na avenida, quando o movimento ainda era conhecido como GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes). Mas o termo foi se tornando obsoleto, e em 2008 foi adotada a sigla LGBT, incluindo os bissexuais e pessoas trans, trazendo a identidade de gênero à tona. Desde então, novas letras foram incorporadas ao termo.
O Orgulho
O dia do Orgulho LGBTQIA+, dia 28 de junho, não é só uma data, afinal de contas tem que se ter orgulho todo dia. Ele também está associado ao movimento que visa promover direitos iguais, a luta contra a violência e discriminação social dessa comunidade. Aceitação, igualdade e inclusão na sociedade. Coisas tão básicas e essenciais, mas que ainda precisam do ativismo constante formado por uma série de movimentos sociais, políticos e culturais. Visibilidade para a causa sempre alinhada com a diversidade e, mais que tudo, a liberdade de ser o que se quer ser. Um ponto importante que também é necessário, e ser cada vez mais reforçado. é trazer representatividade ao tema no universo jovem, desmistificar impossibilidades. Um exemplo que reverberou muito foi a revelação em junho do ano passado que o Bob Esponja, personagem ícone do público infanto-juvenil, é gay.
Um dândi nos trópicos
Eu não sou da geração que acompanhou, que viu e vê o Bob Esponja, mas particularmente, a data, o fato tem um significado especial para mim. Nasci no mesmo ano, 1969, em Maceió, Alagoas, três meses após o ocorrido em NY. Na década seguinte, ainda criança, caminhando para a adolescência, ainda não tinha consciência que eu era gay. Foi só na década de 1980 que percebi com clareza o que sentia. Eu era chamado de “almofadinha”, um eufemismo para “bichinha”, “viadinho”, porque me vestia de maneira diferente. Enquanto meus amigos usavam na maioria shorts curtos de naylon, praticamente todos sem camisa devido ao calor, eu usava roupas de linho que a minha vó Anautha costurava para mim. Eram bermudas com barra italiana, camisetas e camisas de linho, geralmente em branco e azul claro. Ela dizia que o linho era o tecido certo para ser usado onde vivíamos, era leve, elegante e deixava a pele respirar. De lá para cá muitas roupas rolaram, muitas letras e cores.
Em pleno século 21, que iniciou apocalíptico e que só no nosso país ceifou a vida de meio milhão de pessoas até agora devido a uma pandemia e a um [des]governo genocida, o reconhecimento da diversidade sexual e de gênero, das relações homoafetivas nem deveria ainda estar em pauta. Além de celebrar as conquistas realizadas até agora, a ocasião é também para muita reflexão, pois o preconceito permanece. Não podemos esquecer que o Brasil é o país que mais mata transsexuais no mundo. Entre o ódio e o desejo o paradoxo se instala: o Brasil é um dos países que mais consomem pornografia com pessoas trans. Mas apesar dos pesares, todo mês de junho é para [re]lembrar que na na bandeira arco-íris cabem muitas outras cores.
O Abecedário de L a +
Se você ainda não conhece o significado de cada letra do termo, abaixo seguem seus significados, embora no vocabulário do amor, do afeto e do sexo cabem muitas outras, entre o A e o Z, com infinitas possibilidades.
L – Lesbian (Lésbica): mulheres que sentem atração sexual/ afetiva por outras mulheres.
G – Gay (Gay): homens que sentem atração sexual/ afetiva por outros homens.
B – Bisexual (Bissexual): pessoas que se sentem atração sexual/ afetiva por homens e mulheres.
T – Transgender (Transgênero/ Travesti): Transgênero é a pessoa que não se identifica com o seu gênero biológico, o de nascimento. Travesti é a pessoa que nasce no gênero masculino, porém se entende pertencente ao feminino, apesar de não aderiram à identificação “Mulher” – diferente dos transgêneros.
Q – Questioning (Queer): Pessoas que não se encaixam no padrão heteronormativo ou em nenhum dos gêneros binários
I – Intersex (Intersexo): Pessoa que nasce com a anatomia sexual ou reprodutiva não pertencente, exclusivamente, à anatomia masculina ou à feminina.
A – Assexual (Assexual): Uma pessoa que não sente atração sexual por outras pessoas – seja de forma total, parcial ou condicional
+: Todas as outras formas de expressão da sexualidade e do gênero que não se enquadrem no padrão heteronormativo e nos termos citados acima.