A sugestão para as nossas decisões sobre como queremos o congresso nacional é a de que mesclemos a luta da resistência indígena e a luta antirracista.
Se por um lado, é preciso levar o cocar para o Congresso Nacional; por outro, é preciso aquilombar a política. Não como lados opostos, mas como complementares. Quando olhamos uma foto do Congresso Nacional, não nos vemos ali. É como se existisse o Brasil de maioria de homens, brancos, ricos e empresários, proprietários de terra e do agronegócio. Mas a gente sabe que, aqui na base, a história é outra. Somos um país multicultural, diverso etnicamente e com cara e cotidiano de mulher. Mulheres são maioria da população, assim como negros e negras. Dentro do grupo de mulheres, mulheres negras configuram a maioria. Então, por que a gente não está lá onde as decisões sobre nossas vidas são tomadas?
As discussões para o executivo federal, e a definição dos projetos políticos que serão as diretrizes de atuação de governantes eleitos, são super importantes. Isso é um fato, principalmente em um país que, a despeito de ser uma República Federativa, ainda é um tanto centralizado na indução de políticas e tomada de decisões. Mas, percebemos, e isso ficou mais evidente nos últimos anos, o quão importante é que o outro poder eleito que discute e define leis, que é o caso do legislativo, também espelhe a cara da sociedade e que projete, defenda e defina políticas que impactarão principalmente entre essa cara do Brasil tão invisibilizada: negra, indígena e popular.
O diálogo e relação de construção conjunta de ação política entre as populações negra e indígena no Brasil não é nova. Se pensarmos as formações dos quilombos, a despeito de serem difundidos como espaços de resistência negra escravizada ao período colonial, elas existiram já sob um modelo de cooperação entre negros que ali se refugiavam e indígenas que já ali residiam. Ou seja, a luta de construção conjunta, apesar de apontarmos e sabermos que devem ser cada vez mais parceiras, não é uma novidade e há, portanto, um acúmulo ancestral de luta de (re)existência e, mais do que isso, de proposição sobre um projeto de nação harmonioso em vida humana e não-humana, em termos de cooperação para garantia de direitos e acesso à dignidade.
Assim, a sugestão para as nossas decisões sobre como queremos o congresso nacional é a de que mesclemos a luta da resistência indígena e a luta antirracista. Em um país de maioria negra e com altos índices de violência, situação de vida e relações precárias para pessoas negras, é um dever estabelecer um compromisso com a luta e um voto antirracista. Eleger parlamentares indígenas e negros e negras é um eleger as nossas vidas e do planeta como prioridade, é eleger a dignidade, a empatia e valores de sociabilidade sustentáveis, de afeto e cooperação.
A Coalização Negra por Direitos, organização e fórum que reúne centenas de organizações do movimento negro pelo país, lançou o chamado para esse voto ao constituir os “Comitês Antirracistas”, com candidaturas negras de diversificadas siglas comprometidas com a equidade e justiça sócio-racial. O chamado é sintético e objetivo, de que é preciso eleger “gente nossa, gente preta, lideranças do movimento negro”. Esse último trecho é de extrema importância: não basta ser qualquer pessoa negra, é preciso que seja uma pessoa negra alinhada a um projeto de transformação radical da sociedade. E essas pessoas estão em construções coletivas, em movimento, em comunidades.
O aquilombamento da política é tão urgente e emergente quanto a “cocarização” da política. Essas são lutas cooperativas entre si. Assim, também, pode ser nossa decisão e escolha de voto.
Conheça o nosso marketplace de consumo consciente!