Um presente de luta e um futuro possível com as mulheres
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Um presente de luta e um futuro possível com as mulheres

Um presente de luta e um futuro possível com as mulheres

Ao pensarmos em futuros possíveis, me vem a ideia primeira de que as possibilidades de futuro da humanidade só podem ser imaginadas se e com a participação das mulheres. E por que isso é importante? Não apenas porque somos 52% da população brasileira, mas porque se queremos construir horizontes e futuros de harmonia, equilíbrio e justiça, precisamos que todos e todas contribuam em igualdade. E, se pensarmos na situação do nosso país, o cenário é preocupante em relação a essa participação. Com mais mulheres na política, teremos mais atenção e garantia aos nossos direitos sexuais e reprodutivos, maior combate às desigualdades de gênero e no mercado de trabalho, propostas que redefinam a economia de cuidados, questionamento a papéis sociais que depreciam ou desqualificam vivências. Ou seja, ao mudar e melhorar nossas vidas, mudamos e melhoramos a vida de todos e todas.

 

Nosso dia a dia é tomado pelas dinâmicas da política. A ideia de que podemos nos esquivar da política não passa de um sonho ou alienação. Já disse Aristóteles que somos animais políticos. Vivemos na pólis, exercemos a vida como demos, somos seres sociais. Nesse sentido, por mais que achemos que a política não nos importa, há políticos que sabem o quanto ela é importante impacta na vida de todo um conjunto social. Estou dizendo isso para afirmar o feminismo como um movimento político. 

Em geral, conhecemos Bertha Lutz como uma importante sufragista brasileira. E, de fato, assim foi. Mas também participou ativamente da elaboração da Constituição de 1934. Ou seja, mais do que direito ao voto, Bertha Lutz percebeu a importância da disputa política para garantir a igualdade de direitos entre homens e mulheres. Em 1936, Laudelina Melo fundou uma associação, a primeira, pelos direitos das trabalhadoras domésticas. Ou seja, reconhecer que esse é um trabalho e não “uma ajuda”, que uma trabalhadora doméstica não é uma mera colaboradora, muito menos alguém “quase da família”, mas são, fundamentalmente, e umas das primeiras, trabalhadoras no país. A jovem estudante Helenira Resende foi uma combatente do regime militar e acabou assassinada pelo Estado com golpes de baioneta. Assim como Iara Iavelberg, psicóloga e professora que lutou contra a ditadura e também acabou assassinada. Estamos falando de algumas lideranças mais recentes para exemplificar que as mulheres sempre estiveram presentes em momentos fundamentais de intensa disputa política do país. E nada disso ocorreu, nem ocorre, por acaso.

As mulheres constroem a história, a despeito da história hegemonicamente contada tente nos apagar dela. Tanto que uma importante feminista e historiadora, Joan Scott, afirmou que para pensar a História poderíamos, e deveríamos utilizar gênero como categoria analítica.

Ao pensarmos em futuros possíveis, me vem a ideia primeira de que as possibilidades de futuro da humanidade só podem ser imaginadas se e com a participação das mulheres. E por que isso é importante? Não apenas porque somos 52% da população brasileira, mas porque se queremos construir horizontes e futuros de harmonia, equilíbrio e justiça, precisamos que todos e todas contribuam em igualdade. E, se pensarmos na situação do nosso país, o cenário é preocupante em relação a essa participação. 

Segundo matéria da Agência Brasil de Notícias, as mulheres ocupam apenas 77 das cadeiras na Câmara dos Deputados, em um total de 513 deputados. No Senado, apenas 12 mulheres foram eleitas, em um universo de 81 senadores. Ainda segunda a agência, dados divulgados pelo Mapa das Mulheres na Política 2020, da ONU, e pela União Interparlamentar (UIP), estamos no 140o lugar na lista de países analisados sobre a presença feminina no parlamento. 

Quando olhamos as discussões sobre as eleições no Brasil, principalmente aos cargos dos executivos estaduais e nacional, há poucos nomes femininos entre pré-candidaturas. E nada disso vem à toa, já que muitas organizações têm denunciado o aumento da violência política contra mulheres. Uma violência baseada em assédio político, com a intenção de causar constrangimento e desqualificação de mulheres que atuam politicamente. Ainda temos poucos dados sobre isso, já que a participação política de mulheres não é incentivada tanto quanto necessário, mas uma pesquisa do Instituto Alziras, de 2016, que entrevistou quase a metade de prefeitas eleitas (em um universo de 649), mostrou que 53% delas já sofreu assédio ou violência política e 30% haviam sofrido assédio e  outras violências em sua atuação política.

Diante desse cenário, muitas mulheres têm se levantado, convocado reuniões, se debruçado sobre as dinâmicas de gênero e as violências delas decorrente, formulado e proposto políticas não apenas sobre suas vidas e como melhorar a vida de todas nós, mas de como transformar a vida de toda a sociedade. Com mais mulheres na política, teremos mais atenção e garantia aos nossos direitos sexuais e reprodutivos, maior combate às desigualdades de gênero e no mercado de trabalho, propostas que redefinam a economia de cuidados, questionamento a papéis sociais que depreciam ou desqualificam vivências. Ou seja, ao mudar e melhorar nossas vidas, mudamos e melhoramos a vida de todos e todas. Participemos ativamente da construção do futuro que queremos.