De onde vem a nossa comida? Como ela é feita? Ou, ainda mais pontual: o que é a nossa comida? Há décadas atrás talvez fosse impossível imaginar que um dia chegaríamos a duvidar do que ingerimos. Talvez pareça futurístico demais, mas hoje, em 2018, podemos e devemos questionar o que chega à nossa mesa. Isso porque, com o extremo avanço tecnológico, populacional e em meio ao caos ambiental, os alimentos transgênicos são uma realidade: alimentos geneticamente modificados.
Com o propósito de criar sementes resistentes a herbicidas, a ideia dos transgênicos poderia até ser a de um super alimento, mas torna-se uma ameaça quando coloca em risco a biodiversidade, a pureza das plantações e toda a riqueza que um bom alimento fresco possui. Hoje, diversas organizações ao redor do mundo lutam para impedir a comercialização de sementes transgênicas e ampliar o debate, mas o que de fato é essa alimentação e como você pode participar dessa discussão?
Os mitos dos transgênicos
Os organismos geneticamente modificados, também chamados de OGMs ou transgênicos, são aqueles produzidos a partir do cruzamento de genes vindo de diferentes origens: a partir do fim que se deseja alcançar, uma série de genes são reunidos, mesmo que de espécies diferentes, para criar um alimento potencializado. Um exemplo latente desse tipo de produção são as plantas modificadas para serem resistentes aos herbicidas utilizados nas lavouras. Para isso, elas recebem genes vindo de vírus e bactérias, produzindo uma proteína tóxica que naturalmente não faria parte de sua composição. Esta técnica é chamada de Transgenia e teve início dos anos 1970, mas não deve ser confundida com a ideia de melhoramento genético.
Os transgênicos são alimentos modificados, mas não necessariamente melhorados. A ciência do melhoramento genético é muito anterior à transgenia, e compreende a seleção e cruzamento de sementes dentro de uma mesma espécie, de forma a garantir a melhor qualidade nutritiva e resistente desses alimentos. É chamado de melhoramento pois dentro dessa mesma espécie, produz a partir dos melhores. Uma técnica que a longo prazo garante uma produção com máxima qualidade. A modificação genética, porém, parte de técnicas e cruzamentos que naturalmente não seriam encontrados na natureza, em um processo artificial.
Como os transgênicos afetam a natureza?
Para além da produção dos organismos geneticamente modificados, outro ponto que preocupa é a forma como eles interagem no meio ambiente e quais as consequências dessa interação. Como aponta o documento “Transgênicos: a verdade por trás do mito”, da Greenpeace “um organismo geneticamente modificado, se liberado no meio ambiente, pode crescer, multiplicar-se e interagir com toda a biodiversidade. Ele não pode ser controlado. São seres vivos que irão interferir em todos os ciclos da natureza. Esses efeitos podem ser irreversíveis, e nosso conhecimento de como e quando o dano pode surgir é limitado”.
O que estudos apontam desde a liberação das primeiras sementes modificadas é que, quando introduzidas ao solo, o comportamento das sementes é imprevisível, assim como o cruzamento que ocorre naturalmente na natureza também passa a ser uma ameaça. No Canadá. três diferentes tipos de canolas transgênicas cruzaram entre si, cada uma resistente a um tipo de herbicida diferente, produzindo uma erva daninha antes jamais conhecida. Para combatê-la foi preciso mais agrotóxicos e venenos cada vez mais nocivos.
Desde a liberação do primeiro transgênico nos EUA, o Departamento de Agricultura do país apontou o aumento de 22% no uso do herbicida nas plantações. Isso porque não só as ervas daninhas também se tornaram mais resistentes aos herbicidas como houve a queda no valor do produto e a expansão no número de terras com transgênicos. Assim, mais transgênicos passaram a ser cultivados, mais ervas daninhas também se tornaram resistentes e se multiplicaram, e mais agrotóxicos foram utilizados. O efeito foi reverso.
Outro ponto interessante e que merece atenção é que empresas que produzem sementes modificadas são as mesmas que produzem agrotóxicos, e por vezes a venda de ambos é feita de forma conjunta. Um interesse muito mais comercial, pois vende e lucra com o problema e a solução ao mesmo tempo.
O Encontro Nacional de Agroecologia é a união de quem procura uma alimentação de bem.
Preocupações com os transgênicos
Dessa forma, algumas preocupações rodeiam todo o tema dos transgênicos, suas possibilidades enquanto tecnologia mas ameaças enquanto alimento: As ameaças à natureza, consequências desconhecidas, a ameaça à segurança alimentar e o uso ainda mais intenso de agrotóxicos.
Criar um alimento resistente a venenos, por mais promissor que pareça ser, na prática tem agravado o uso destes mesmos agrotóxicos, indo contra uma enorme onda de apelo social para a produção natural, orgânica e pura dos alimentos que são comercializados. O que enquanto consumidor podemos fazer é sempre prezar pelo natural: comprar em feiras, sacolões, de pequenos produtores e alimentos da agricultura familiar, de quem conhecemos a procedência e conseguimos garantir a qualidade.
Por mais que as grandes empresas lancem produtos e tecnologias no mercado, e vendem como solução, precisamos ter um filtro quando percebemos que a natureza e toda a vida natural passa a ser encarada enquanto produto. O que isso significa e como impactam o nosso meio e consumo?
Aqui na Bemglô, temos o compromisso de compartilhar o que faz bem. E o que melhor senão um alimento fresco, orgânico e valorizando tudo de melhor que a natureza pode nos proporcionar?