Poder falar sobre a própria realidade é uma liberdade fundamental para os povos originários do Brasil e de toda a América, não só para manter vivo seus costumes e tradições como para visibilizar suas demandas. Há diversas organizações não governamentais que atuam na salvaguarda dos direitos indígenas, mas um grupo de mulheres decidiu ir além e criar uma agência de notícias dedicada exclusivamente para as pautas de mulheres indígenas e afrodescendentes em toda a América Latina, a Notímia – Vozes, meios e redes para a paz.
A Agência foi lançada efetivamente em 2017, mas sua origem vem de três anos antes, em 2014, quando ocorreu o 1o Encontro de Comunicadoras Indígenas, organizado pela Aliança de Mulheres Indígenas do América Central e México com a necessidade de identificar e fortalecer uma rede de mulheres indígenas que produzem e atuam com comunicação. O encontro teve três edições, formalizando a proposta de uma Agência de Notícias própria em 2016, com a participação de cerca de 300 comunicadoras. Alí surgiu a Notímia.
A Notímia é uma iniciativa comunitária e em rede, promovendo comunicação de forma horizontal e plural. Apesar de fundada no México com foco na América Central, a agência amplia o seu alcance e conecta mulheres indígenas em toda a América, África, Ásia e Oceania. São mais de 200 colaboradoras.
Enquanto Agência de Notícias, a Notímia tem como foco noticiar ações, campanhas e protestos de comunidades originárias em todo o mundo, com foco principal na atuação de mulheres indígenas e também afrodescendentes. Ao acessar a plataforma, é possível conferir uma infinidade de reportagens de diferentes partes do globo, atualizadas semanalmente. A proposta é não somente divulgar essas ações, como também lançar convocatórias para atividades futuras. A quarta edição do encontro que originou a Notímia ocorreu em julho de 2019 e já contou com a divulgação oficial da Agência.
“Promovemos comunicação, formação e difusão dos processos organizacionais de comunidades locais, nacionais e internacionais dos povos originários em diversos idiomas e a nível global.”
A primeira grande ação da Notímia foi a cobertura do Fórum Permanente para as Questões Indígenas da Organizações das Nações Unidas (ONU) em Nova York. Também estiveram no Congresso de Parteiras, Médicas Tradicionais e Justiça Ambiental de Capulalpam de Mendez, no estado de Oaxaca, no México; e atuaram na cobertura da primeira sessão indígena do Fórum de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Além disso, abrem espaço também para que suas colaboradoras compartilhem suas histórias e experiências no portal da Agência, como o artigo “Sou mulher, sou negra, sou surda”, escrito pela dançarina e psicopedagoga Ibis Hernández Gómez, diretamente de Cuba.
No Brasil, um movimento similar é feito pela Mídia India, um iniciativa de comunicação independente dedicado à divulgação e cobertura de atos em prol dos direitos indígenas no Brasil. Conheça aqui.
Em 2019, a Revista Estudos Feministas da Universidade Federal de Santa Catarina publicou o artigo “Comunicadoras Indígenas e Afrodescendentes Latino-Americanas: Sororidade e Identidades”, das estudantes Lízia Carvalho e Nídia Rodriguez, que se debruça a estudar esses movimentos de comunicação indígena e o seu impacto no empoderamento e independência feminina. Confira.
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