Nise da Silveira foi uma pessoa importantíssima para a psiquiatria brasileira. Nise teve sua vida marcada pelos estudos sobre comportamento humano e tratamento de patologias psicológicas, como a esquizofrenia e com afeto e arte revolucionou a forma de tratamento na psiquiatria.
O trabalho de Nise da Silveira
Pequenina e frágil, Nise era uma gigante em força e coragem com que defendeu e lutou por suas ideias no âmbito da psiquiatria institucional. Ela foi pioneira na terapia ocupacional, introduzindo este método no Centro Psiquiátrico Pedro II do Rio de Janeiro e, segundo suas próprias palavras, entrara na Psiquiatria “pela via de atalho da ocupação terapêutica, método então considerado pouco importante para os padrões oficiais”.
Sendo a única mulher formada em medicina numa turma de 157 alunos, colou grau com a tese “Ensaio Sobre a Criminalidade da Mulher no Brasil” (28.12.1926). Casou-se com seu conterrâneo e colega de turma, o sanitarista Mario Magalhães, engajou-se nos meios artísticos e literários e frequentava ativamente os círculos marxistas, junto como marido, e escrevia sobre medicina para o jornal A Manhã (artigos que eram reproduzidos no Jornal de Alagoas, jornal onde seu pai fora jornalista e diretor).
Em 1932 estagiou na famosa clínica neurológica de Antônio Austregésilo, e em 1933 entrou para o serviço público, através de concurso, trabalhando no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental, mas o envolvimento de Nise com o marxismo valeu-lhe 15 meses de reclusão no presídio da Frei Caneca, no período de 1936-1934, local onde conheceu Graciliano Ramos, que a descreve no seu famoso livro “Memórias do Cárcere” (José Olympio Ed., RJ, 1953).
Após sair da prisão, foi reintegrada ao serviço público em 17 de abril de 1944, sendo lotada no Hospital Pedro II, antigo Centro Psiquiátrico Nacional, no Engenho de Dentro, subúrbio do Rio de Janeiro. Nise sentia-se inapta para exercer a tarefa de psiquiatra, pois, era ferozmente contra os choques elétrico, cardiazólico e insulínico, as camisas de força, o isolamento, a psicocirurgia e outros métodos da época que considerava extremamente brutais e recordavam-lhe as torturas do Estado Novo aplicada aos dissidentes políticos, e que ela conhecia tão bem. Paulo Elejalle, entusiasta da forma de reabilitação psiquiátrica sugerida por Nise, pediu a ela para criar a Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação (STOR) do Centro Psiquiátrico Pedro II, neste mesmo ano. Em 1954 o STOR foi regulamentado pelo próprio Paulo Elejalle através de uma ordem de serviço, e oficializado em 9 de agosto de 1961 pelo decreto presidencial no 51.169. Nise dirigiu o STOR desde a sua fundação, em 1946, até sua aposentadoria compulsória em 1974.
O STOR tinha alguns setores especializados, mas foi a criação do atelier de pintura que o tornaria famoso. Neste empreendimento notável, Nise foi ajudada pelo estagiário Almir Mavignier, então com 21 anos e funcionário da secretaria do HPII. Almir viria se tornar um dos primeiros pintores abstratos do Brasil e professor de pintura da Escola Superior de Artes Plásticas de Hamburgo. Em pouco tempo o atelier do STOR ganhou notoriedade e a produção dos pacientes tornou-se um material impressionante sobre as imagens da psicose.
Após ser hospitalizada por um mês com pneumonia no Hospital Miguel Couto, na Gávea, Nise da Silveira faleceu em 30 de outubro de 1999, aos 94 anos, vítima de insuficiência respiratória aguda.
Para saber mais, assista Nise – o coração da loucura, que estreou ontem nos cinemas brasileiros.
Até a próxima!