A lembrança mais remota que tenho de carnaval é o frisson que senti ao chegar no portão da casa de uma prima, em Vaz lobo, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro. Ah! E dos bate- bolas (os bad boys do carnaval de rua), do picolé que me salvou do stress, da fantasia recém saída da máquina Singer que minha mãe pilotava…Eu tinha uns dois anos, mas sempre que chega essa época essas imagens e sensações voltam com muita força. Eu gostei tanto que toda hora perguntava quando seria o carnaval de novo. “Depois do ano novo” – dizia minha avó, mas nada do ano novo chegar… Aí vinha o dia das mães, Páscoa, Tiradentes, dia dos pais, dia da Independência, dia das crianças e, finalmente, o Natal. Ufa! Estava perto, agora! Mais alguns anos se passaram até que eu pudesse, finalmente, ir a um bailinho de carnaval.
Minha mãe fazia as fantasias (havaiana e grega, uma para cada dia), minha irmã me maquiava…que farra boa! –“Vamos logo, pai!” – Dizia eu ficando com as mãos geladas. Esse mal estar durou até entrar no salão. Foi substituído pelo pulsar do meu coração, seguindo os acordes das marchinhas e até alguns sambas-enredo. Eu entrei com tudo no “cordão“ e só saí para beber água… E olhe lá! Mesmo que não quisesse pensar no final, ficava de olho no relógio como se assim pudesse pará-lo por alguns minutos. Não queria que aquele dia acabasse…A bandinha começava aquele repertório melancólico, que anuncia o final do baile até cessar totalmente e eu lá. Meu pai, que era muito paciente, me deixou ficar até o finzinho, quando começaram a varrer o salão. No caminho de volta, a excitação cedendo lugar ao cansaço e eu perguntei “Por que as coisas legais tem que acabar?”.
“Porque se durassem para sempre, seriam comuns e acabariam se tornando chatas” – Respondeu meu sábio pai, me introduzindo no pensamento zen e refletindo sobre a vida.
E você, quais são suas melhores lembranças de carnaval?
Bjos,
Gloria