Ela é uma autora quase desconhecida que tem sido revelada recentemente e considerada uma das as principais escritoras da Colômbia, tendo alguns críticos colocando-a no mesmo nível do também colombiano e ganhador do Prêmio Nobel Gabriel Garcia Marquez, do cubano Alejo Carpentier e do argentino Jorge Luis Borges. Ela é Marvel Moreno, que faleceu há 25 anos praticamente na pobreza. Pioneira, em sua obra explora temas polêmicos como a violência de gênero, machismo, homofobia e prostituição, mesmo sem nunca ter militado ou se declarado ser feminista.
Marvel Luz Moreno nasceu na elitista Barranquilla, cidade portuária do norte da Colômbia, em 1939. Seu pai, um advogado ativista, lhe ensinava literatura, música e filosofia o que lhe deu estofo para se rebelar contra as regras tradicionais da família bastada, mas que cambaleava com dificuldades financeiras, que sua mãe procurava lhe impor. Marvel chegou a ser expulsa de um colégio de freiras por defender as teorias evolucionistas de Darwin, foi a primeira mulher na faculdade de Economia da Universidade do Atlântico e aos 20 anos foi rainha do carnaval de Barranquilla, a festa folclórica mais importante da Colômbia.
Em 1962 ela casa-se com Plinio Mendoza, com quem teve tiveram duas filhas. Em 1972 muda-se definitivamente para Paris e 20 anos depois do primeiro casamento, casa com o engenheiro francês Jacques Fourrier. Desde a sua morte os direitos do seu último livro “O tempo das Amazonas” se mantiveram guardados por suas filhas e por seu primeiro marido, Plinio Apuleyo Mendoza, um jornalista reconhecido de Bogotá e que, segundo leitores da obra, é a inspiração para um dos protagonistas. Há muitos comentários que dizem que Plinio restringiu a publicação da obra.
Mas em março, a editora Penguin Random House publicará o segundo e último romance de Marvel que, segundo corre à boca pequena nos meios literários, só ocorreu após três anos de pressão política e acadêmica. Antes tarde do que nunca. Os leitores em língua inglesa terão a sorte de conhecer a obra dessa autora colombiana, uma das mais fortes da literatura latino-americana, que ainda em sua cidade natal, durante a década de 1960, integrou um grupo de intelectuais importantes para a cena artística colombiana.
Mas o público do seu país natal praticamente só conheceu sua obra quase 20 anos depois de sua morte. Em vida, Marvel apenas publicou duas compilações de contos: “Algo tão feio na vida de uma senhora boa”, em 1980; e “O encontro e outros relatos”, em 1992; e apenas um romance, “Em dezembro chegavam as brisas”, em 1987. Mas foi só quando a editora Alfaguara, uma das maiores do mundo, fundada pelo escritor espanhol e ganhador do Prêmio Nobel Camilo José Cela publicou em 2013 seu penúltimo romance, foi que Marvel alcançou não só um público maior, mas também jovem, assim como os movimentos feministas.
Vários fatores contribuíram para o silenciamento de Marvel Moreno e sua obra. Além do machismo e das censuras, ela sofreu durante duas décadas de lúpus, e teve depressões longas em meio à dificuldades financeiras. Ela morreu em 5 de junho de 1995, em Paris, aos 56 anos devido a um enfisema pulmonar. Desde então, dezenas de acadêmicos se debruçam na sua parca obra para tentar entender o porque da sua marginalização durante tanto tempo, visto que agora ela é uma autora best-seller. Vamos torcer para alguma editora brasileira publicar o quanto antes sua obra por tanto tempo discriminada na qual são as mulheres as protagonistas.