Salve, glorioses! Celebrando o mês dedicado às mães, esse interessante grupo de mulheres que se identificam na superação de obstáculos, trago hoje uma história inspiradora que fala de uma jovem mãe yawanawa, Hushahu Yawanawa, nascida na aldeia Mutum, Terra Indígena do Rio Gregório, no Acre.
Jovem mesmo: seguindo as leis de sua tribo, casou-se aos oito anos de idade, passando por duas gestações seguidas – aos 11 e aos 12 anos. Foi nas agruras da maternidade que a menina despertou para as técnicas de cura, administrados pelas mulheres antigas, há milhares de anos e, lentamente, começou a perceber a importância das mulheres na vida da aldeia. Sua espiritualidade se manifestou cedo, como uma forma de encontrar a sua própria força e seu poder feminino.
Naquela altura, seu povo vivia em dispersão, depois de quase ter sido extinto nos anos 1970. A decadência se instalava na aldeia: sua ancestralidade continuava a ser ameaçada; os homens jovens continuavam saindo da aldeia em busca de sua subsistência; núcleos familiares sendo dissolvidos; a falta de oportunidades… A situação piorou tanto que, em 1999, a comunidade contava com apenas dois rezadores e cinco especialistas em remédios vegetais.
Uma aldeia que não tem um pajé é como um barco sem âncora. Ele é a conexão com os espíritos, responsável pela saúde de seu povo, bem como da terra. Ou seja: uma figura fundamental na aldeia. Foi quando Hushahu, munida da certeza de que poderia transformar a sua realidade e a de seu povo, decidiu pedir a seu pai Tuinkuru para iniciar os estudos no xamanismo – os conhecimentos secretos da mata.
Até aquele momento, nenhuma mulher havia recebido os conhecimentos sagrados. Porém, o velho sábio Tatá Txanu Natasheni percebeu nela o chamado e orientou Hushahu através de uma série de processos: dietas, rigorosos resguardos e uso de substâncias amargas, consideradas ‘espíritos fortes’, transformando a menina-mãe em pajé. Hushahu é a primeira de seu povo.
As visões que ela teve nesse período são hoje responsáveis pela renda das mulheres da aldeia e pelo fortalecimento do artesanato local. Em uma visão, que teve no período de preparação, certo elemental feminino mostrava os kenes (grafismos) e indicava a antiga terra sagrada de seu povo. Hushahu entendeu que sua missão era resgatar sua arte e sua cultura. Graças à esse manancial, os yawanawa tem sua independência financeira e, não por acaso, seu povo está retornando à terra sagrada.
As cerimônias conduzidas por Hushahu atraem não só os da comunidade como os nawá (não-indígena), pois são abertas a todas as pessoas que buscam conhecer os benefícios da medicina da floresta e o auto-conhecimento. Por isso, o próximo objetivo é a construção de um espaço na aldeia Mutum para fortalecer ainda mais a cultura e espiritualidade de seu povo, beneficiando principalmente as mulheres – a Casa de Arte Yawanawa.
Hoje Hushahu é reconhecida não só pela sua comunidade como líder espiritual mas também como a grande responsável pelo renascimento da cultura yawanawa.
Hukena, filha de Hushahu, conta que depois de sua mãe “as mulheres despertaram para o seu valor”. Sua história e seu exemplo fizeram com que, também em outras aldeias, as mulheres lutassem pelo direito ao estudo e a ter mais poder de decisão. Que a história da primeira pajé, Hushahu, seja inspiração para todxs nós buscarmos nosso poder pessoal.
Em meio à pandemia da Covid-19, deixo aqui um convite para você se unir a uma ação, coordenada pelo Arte Amerindia (clique aqui), para amparo à comitiva de 15 yawanawas ilhados em Uberlândia sem poderem retornar à aldeia. Todxs podem ajudar!
Um beijo e até a próxima Quarta Gloriosa.