Considerada a primeira mulher negra a fazer literatura no Brasil, Carolina Maria de Jesus era também compositora e poeta. Ela nasceu na cidade de Sacramento em 1914, numa família de lavradores. Desde cedo trabalhando na lavoura, deixou a escola depois do segundo ano primário e migrou para São Paulo, onde trabalhava como empregada doméstica e catadora de papel.
A poesia de Carolina Maria de Jesus
O seu primeiro livro foi “Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada”, lançado graças ao jornalista Audálio Dantas, que a descobriu quando fazia uma matéria jornalística na extinta favela do Canindé, onde ela morava.
Traduzido para 14 línguas, ela chegou a viajar pelo Brasil e América Latina, sendo homenageada pela Academia Paulista de Letras e pela Orden Caballero Del Tornillo na Argentina. Carolina Maria de Jesus denunciou a realidade das mulheres pobres, mães solteiras, negras e periféricas, na literatura brasileira.
Depois do sucesso repentino, vieram também “Casa de Alvenaria: diário de uma ex-favelada” (1961), “Provérbios” (1963) e “Pedaços da Fome” (1963), já vivendo em um bairro de classe média, decidiu se mudar para um sítio em Parelheiros, onde viveu até falecer em 1977 aos 63 anos. Quarto de Despejo foi relançado, e só após a sua morte o mercado editorial volta o seu olhar para a escritora esquecida em seus últimos anos.
Humanidade
Depôis de conhecer a humanidade
suas perversidades
suas ambições
Eu fui envelhecendo
E perdendo
as ilusões
o que predomina é a
maldade
porque a bondade:
Ninguem pratica
Humanidade ambiciosa
E gananciosa
Que quer ficar rica!
Quando eu morrer…
Não quero renascer
é horrivel, suportar a humanidade
Que tem aparência nobre
Que encobre
As pesimas qualidades
Notei que o ente humano
É perverso, é tirano
Egoista interesseiros
Mas trata com cortêzia
Mas tudo é ipocresia
São rudes, e trapaçêiros
– Carolina Maria de Jesus, em “Meu estranho diário”. São Paulo: Xamã, 1996. (grafia original)
“O Diário de Bitita”, livro base para o monólogo dirigido por Ramon Botelho, com Andréia Ribeiro no papel principal, foi lançado apenas em 1986 e tornou-se outro best-seller de Carolina Maria de Jesus. Com ele, vieram documentários, reportagens internacionais e livros sobre sua vida. Seu nome está eternizado em bibliotecas e ruas.
Pouco a pouco as mulheres ganham seu espaço mas para as mulheres negras, esse processo é ainda mais lento. Sinal de que temos muito pelo quê ainda lutar. Não deixem de ler Carolina Maria de Jesus. É surpreendente e revelador.
Um beijo e até a próxima Quarta Gloriosa!