Bibliotecas Humanas
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Bibliotecas Humanas

Bibliotecas Humanas

Imagine uma biblioteca na qual pessoas são consultadas ao invés de livros?! Pois elas já existem há duas décadas e estão espalhadas em mais de 80 países em todos os continentes. São as bibliotecas humanas, uma experiência iniciada em 2000 pela ONG Stop the Violence, sediada em Copenhague, na Dinamarca. A primeira delas abriu suas portas na capital dinamarquesa dentro do Roskilde Festival, um dos maiores festivais de verão realizados na Europa. A iniciativa da ONG foi capitaneada pelo jornalista Ronni Abelger, e seu objetivo era reduzir a discriminação existente entre os jovens, questionando preconceitos e estereótipos, além de promover o diálogo, a tolerância e compreensão para pessoas de outras raças, culturas e religiões.

Naquela época, e após anos de intensa imigração, um sentimento de rejeição à população estrangeira começou a surgir dentro de uma parte da sociedade dinamarquesa. Para reverter essa tendência, Abelger lançou a ideia e a primeira biblioteca humana inspirou outras pessoas que decidiram abrir novas bibliotecas em diversas localidades da cidade. O projeto gerou um movimento organizado em torno da marca “Human Library Organization” [HLO], uma organização internacional sem fins lucrativos cujo objetivo é oferecer um lugar seguro para o diálogo, livre de preconceitos, e onde os assuntos sejam debatidos abertamente entre “livros humanos” e “seus leitores”. A organização é literalmente uma biblioteca de pessoas que promove eventos nos quais os leitores/ouvintes têm acesso a pessoas que se tornam “livros abertos” e podem ter conversas sobre os mais variados temas. A HLO tem como principal objetivo ser uma plataforma de aprendizado promovendo  diversidade e inclusão.

É sabido que as bibliotecas sofreram grandes mudanças para se adaptarem a novos modelos sociais e, principalmente, aos avanços da tecnologia. Elas, que são até hoje consideradas “templos” do conhecimento, precisaram se reinventar nas últimas décadas diante das novas ferramentas tecnológicas. Neste cenário, as bibliotecas humanas nos fazem lembrar que embora a tecnologia tenha criado ferramentas que proporcionam a hiperconectividade, há algo mais fundamental que é a interação e o contato humano. Com diz a letra de uma canção, “chega de conexão, o que eu quero é contato”. Com a intensificação dos movimentos migratórios no mundo todo e com uma enorme confluência de pessoas de diferentes culturas, religiões e raças que passaram a conviver juntas, as bibliotecas humanas foram concebidas como plataformas para promover o diálogo entre pessoas que nunca conversavam entre si, rompendo barreiras de preconceitos e estereótipos por intermédio do conhecimento e do diálogo.

O funcionamento delas é muito simples: os usuários que acessam e consultam seu catálogo de “opções”, ao invés de encontrar livros, encontram pessoas com histórias para contar. Assim, eles podem ficar sentados cara a cara por um tempo determinado para ouvir e dialogar. Nesse novo modelo, a ideia não é ler ou emprestar livros, mas compartilhar histórias pessoais para trazer à tona novas realidades que, por muitas vezes, estão distantes do nosso cotidiano. Nas bibliotecas humanas cada pessoa se oferece como um “livro humano” de maneira voluntária e gratuita. De certo modo, elas ensinam que, como nos livros, as pessoas não devem ser julgadas apenas pela “capa”, pela aparência.

No Brasil, a iniciativa existe – por exemplo – na Faculdade de Ciências Agrárias (FCA) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), que em setembro de 2019 realizou um evento com o intuito de combater o preconceito e aproximar pessoas com relatos de vítimas de intolerância. Com o suporte de profissionais de psicologia e biblioteconomia, a Biblioteca Humana da UFAM também conta com a certificação da HLO. O sucesso das primeiras bibliotecas humanas na Dinamarca incentivou a expansão da ideia para outros países como o Canadá, Estados Unidos, Índia, Itália, Islândia, Romênia, Noruega, Portugal e Espanha, país onde existem bibliotecas humanas em Madri, Barcelona e Sevilha. No nosso mundo tão assoberbado de informações provenientes de tantos canais de comunicação, as bibliotecas humanas são um alento para proporcionar não só um lugar de fala, mas – principalmente – de escuta e diálogo. E comprovar que nada melhor do que uma conversa ao pé do ouvido.

Conheça mais no site http://humanlibrary.org, no Instagram @humanabiblioteca e no Facebook Biblioteca Humana.


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