Hoje, dia 21 de dezembro, não é um dia qualquer. Além de ser o dia mais longo do ano, o solstício de verão, é o dia que também acontece a conjunção de dois titãs, Júpiter e Saturno, dois planetas cujo último encontro aconteceu há 20 anos no signo de Touro, do elemento terra. O que torna astrologicamente esse dia tão importante é que ambos os planetas agora se encontram em Aquário, signo do elemento ar, e isso não ocorria há 200 anos. É o que os astrólogos chamam de Grande Conjunção, e mais ainda por estarem mudando de elementos é chamada de a Grande Mutação, pois estamos deixando uma era orientada para a terra e nos movendo para uma era regida pelo ar. Nos próximos dois séculos, Júpiter e Saturno se revezam a cada 20 anos, se encontrando em Aquário, Libra e Gêmeos. Portanto estamos iniciando literalmente hoje uma nova era.
No Solstício de Verão é celebrada a fertilidade e a abundância da Terra. Nossos ancestrais celebravam as transformações ocorridas na natureza por intermédio de rituais que homenageavam o sol. O solstício é comemorado há séculos em todo o mundo e é considerado um dia muito poderoso no campo da magia, do sagrado. Para os índios Guarani, por exemplo, a chegada do solstício de Verão marca o meio do Tempo Novo. As civilizações antigas da América, Ásia e Europa tinham o seu próprio entendimento do evento astronômico e realizavam rituais para agradecer ao sol. Os povos ancestrais usavam saberes relacionados às constelações para um tipo de “calendário agrícola” que indicavam os melhores períodos para o plantio e colheita, para a caça e a pesca. Com raízes guaranis, o brasileiro Germano Afonso já mapeou mais de 100 constelações indígenas Tupi-Guarani. Ele é responsável por recuperar a estreita ligação dos indígenas do Brasil com a astronomia. Afonso estudou física e fez doutorado na França, tornando-se especialista em mecânica celeste, a área da astronomia que lida com os movimentos dos astros, e é um dos pioneiros no Brasil nas áreas de arqueoastronomia e etnoastronomia.
Céu e Terra, Fé e Ciência
A primeira compreende o estudo das ideias das antigas civilizações sobre os astros; já a segunda tem como foco o conhecimento do mesmo tema entre povos não-ocidentais. Afonso reuniu ao longo de mais de duas décadas informações sobre como o conhecimento astronômico embasava a mitologia e o cotidiano dos povos indígenas, que têm o Sol, a Lua, Vênus, as constelações do Cruzeiro do Sul e das Plêiades como referências importantes no seu cotidiano. Segundo o pesquisador, os guarani, por exemplo, ainda constroem suas casas de forma que as portas deem diretamente para o leste e oeste. É o chamado caminho dos mortos. “Eles acreditam que é o percurso que segue as almas dos falecidos. Eles também preferem realizar atividades como caça ou extração de madeira durante a lua nova, já que na lua cheia os animais estão muito agitados. E fazem o plantio principal do milho geralmente na primeira lua minguante de agosto”. E completa, “as constelações são usadas durante todo o ano. Algumas têm finalidades religiosas, outras são mais por curiosidade, mas elas servem, principalmente, como calendário agrícola”. Segundo ele, os indígenas não separam o céu da Terra e muito menos a fé da ciência.
Assim como os gregos, os indígenas sempre valorizaram o papel da mitologia em sua cultura, e a relação com o sol era e ainda é um fator fundamental. As tribos planejavam qual era o melhor momento não só para plantar, caçar e pescar, mas também para engravidar. A observação do céu noturno e a utilização dos astros como forma de orientação no tempo e no espaço sempre fizeram parte dos saberes de várias civilizações do mundo inteiro. Povos como os Indígenas Guarani já citados e os aborígenes australianos também utilizavam as estrelas para saberem os períodos de chuvas e estiagem, calor e frio e até mesmo para observarem mal presságios. Mas a associação de estrelas para compor figuras varia de acordo com as diferentes culturas e civilizações, Por exemplo, na constelação que civilizações ocidentais chamam de Escorpião, os Guarani vêm a figura do Boitatá. Vale lembrar também que por volta de 1612, o missionário capuchinho francês Claude d’Abbeville acompanhou os indígenas Tupinambá do Maranhão e registrou 30 constelações conhecidas por eles conforme registros compilados no livro “História da missão dos padres capuchinhos na Ilha de Maranhão e terras circunvizinha”, considerado umas das mais importantes fontes da etnografia dos Tupi.
A ascensão do Céu
Mas este último mês deste ano no qual o mundo mergulhou em uma pandemia que ainda continua ceifando vidas também trouxe uma notícia que é um marco histórico. Davi Kopenawa, líder e xamã yanomami, autor do livro “A Queda do Céu”, foi o primeiro indígena a ser eleito membro da Academia Brasileira de Ciências, onde toma posse no dia 1º de janeiro de 2021. No ano passado, ele ganhou o “Nobel alternativo”, o prêmio Right Livelihood, por sua luta à frente da associação Yanomami Hutukara. O fato de um xamã indígena fazer parte desse seleto grupo de eleitos coloca lado a lado ciência e espiritualidade. Pois é, parece que realmente a humanidade inicia uma nova era, um novo ciclo que perdurará por mais 200 anos. Hoje, dia 21 de dezembro é, sem dúvida alguma, um dia para celebrar, ritualizar a vida. Não só porque nos aproximamos de uma data tão cara e importante para todos nós, o Natal, mas também e porque tanto os Equinócios quanto os Solstícios são ocasiões poderosas que atuam como catalisadores, gatilhos para ascender espiritualmente. Um excelente solstício, natal e um novo ano a todas e todos! Que possamos ritualizar cada vez mais, não só hoje, mas todo dia.