Salve, Glorioses. Hoje eu quero levar vocês a uma viagem pelo alto do rio Jordão, AM, para conhecer Ibã Huni Kuin, hoje liderança dos auto-denominados Huni Kuin (povo verdadeiro, na língua Kaxinawá). Tudo começou quando, aos 19 anos, ele saiu de sua aldeia remota para aprender a ler e escrever na cidade. Tendo se formado professor, com mestrado pela Universidade Federal do Acre, retornou à Aldeia Xiku Kurumim decidido a registrar os conhecimentos quase perdidos de sua comunidade.
Ibã começou por alfabetizar o seu povo ao mesmo tempo em que todos aprendiam, com os mais velhos, tudo o que esses haviam aprendido com os avós. Assim registraram os mitos e as antigas músicas Huni Kuin, entre os quais, o mito fundador de seu povo, onde um homem, Yube, que abandona sua forma humana se transformando em cobra e recebe a visão dos quatro cipós necessários para o preparo a ayahuasca, bem como os cantos nixi pae, para chamar os espíritos. Pouco a pouco, Ibã tornava-se um txana – mestre dos cantos e do conhecimento.
Construindo pontes entre os professores do magistério, os xamãs e os jovens da aldeia, produziram seu primeiro livro, “Nixi Pae – O espírito da floresta”, que devido à sua importância, passou a ser distribuído nas escolas públicas dos mais de 20 municípios onde estavam presentes aldeias Huni Kuin, multiplicando as músicas perdidas.
Sempre atendendo às “mirações”, visões que acontecem durante o uso da ayahuasca, converteram os cantos em telas multicoloridas. Então Ibã lançou o Mahku – Movimento de Artistas Huni Kuin em 2011 e, já no ano seguinte, graças à divulgação online, a Fundação Cartier de arte contemporânea convocou o projeto para a exposição Histoires de Voir, em Paris. De lá, para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte de São Paulo, Instituto Tomie Ohtake, Centro de Artes da Universidade Federal Fluminense, Centro Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais e até uma residência artística na Maison Folie, em Lille, também na França.
As telas de grande formato, com os mitos e visões apreendidas durante os rituais de cura e autoconhecimento mostram a riqueza de sua cultura ao mundo, ao mesmo tempo que possibilitam a aquisição do que ainda existe de mata virgem em sua região, preservando a floresta, pesquisando as ervas medicinais locais e onde ele espera construir um centro de intercâmbio cultural.
Essencialmente artístico, o Mahku também lançou o seu primeiro audiovisual, “O Espírito da Floresta”, onde o próprio Ibã conta em detalhes toda essa trajetória.
Com a pandemia, o Movimento de Artistas Huni Kuin não têm viajado para as exposições e oficinas, sua principal fonte de divulgação e renda. Porém, estão se dedicando à pintura de novas telas para ampliarem esse importante projeto em 2021.
Um agradecimento super especial ao mestre Ibã, que se disponibilizou a conversar com a gente e contar um pouco de sua história. Acompanhe aqui o blog do Movimento Mahku e também a página no Facebook!
Um beijo e até a próxima Quarta Gloriosa.