“Que tal aprender a transformar uma área degradada em uma floresta cheia de vida, capaz de produzir diversos tipos de alimentos?” É com essa indagação que o permacultor Bento Cruz percorre o Brasil para promover a Agrofloresta Sintrópica, um método de cultivo de solo que permite não só a restauração de áreas degradadas como o seu uso para a produção de uma diversidade de alimentos livres de agrotóxicos. Para da iniciativa compreende o 3º Curso Básico de Agrofloresta Sintrópica, que ocorrerá entre 31 de maio e 2 de junho no interior de São Paulo.
O que é Agrofloresta Sintrópica?
Para entender este conceito, primeiro precisamos compreender a monocultura, sistema utilizado hoje na produção de alimentos em grande escala pelo Brasil. Com a monocultura, um só tipo de alimento é cultivado em uma grande área de vegetação. Dessa maneira, toda a diversidade vegetal da área é eliminada para que ali possa ser plantada apenas um tipo de semente, uma prática danosa ao solo e às espécies diversas originais da região.
Já a agrofloresta funciona em lógica oposta: o cultivo de alimentos em respeito às florestas, à diversidade do solo, com sistema de plantio sustentável e que, ainda, promove a restauração de áreas degradadas. A agrofloresta sintrópica reúne em mesmo solo hortaliças, frutas e madeira e é a prova da generosidade da terra: ao invés de destruirmos para cultivar, respeitamos o ciclo natural da terra e cultivamos a partir de sua diversidade. Essa é a mensagem de Bento Cruz e outros agrônomos que defendem este novo método de produção. Bento, que também é antropólogo, conta que descobriu a agrofloresta quando desenvolvia trabalhos com comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas:
“Percebi que eles tinham uma outra relação com cultivar a terra, que era mais intuitiva. Eles observavam as espécies e os insumos que tinham à disposição e dali conseguiam gerar um entorno de abundância em torno das casas.”
Com o mestre indígena e agrônomo Tupinambá (pioneiro da Agrofloresta Sintrópica ao lado do suíço Ernst Gotsch), Bento desenvolveu o projeto social Aratu, que impulsionou o turismo de base comunitária utilizando a agrofloresta como um dos pilares de transformação social na ilha Mem de Sá, em Sergipe. Deste então, o agrônomo viaja o país para promover a Agrofloresta Sintrópica em fazendas e oferecendo cursos como o que ocorrerá no próximo dia 31.
O curso em Agrofloresta Sintrópica
Para ensinar sobre o ciclo de abundância que existe na natureza, o 3º Curso Básico de Agrofloresta Sintrópica será realizado no Sítio Pau d’Água, no pequeno município de Piracaia (90 Km de São Paulo). De 31 de maio a 2 junho, Cruz ensinará os participantes a criar a sua própria agrofloresta sintrópica. Em um canteiro de 100 metros quadrados, aprenderão a fazer a leitura da paisagem e aplicar os princípios da agrofloresta, como sucessão natural (sequência de espécies que são plantadas para revigorar o solo até virar uma floresta), estratificação (quais plantas ocupam determinado espaço para melhor aproveitamento da luz solar) e senescência (manter a floresta sempre jovem com podas).
No curso, o foco será o cultivo de hortaliças e plantio e multiplicação de sementes crioulas, que correm risco de extinção.
Para quem vive nas grandes cidades e não tem a possibilidade de um terreno como esse, o agrônomo explica como adequar os princípios da Agrofloresta Sintrópica:
“O primeiro passo começa pela conscientização sobre a produção do seu próprio lixo. O lixo orgânico pode virar composto orgânico (adubo), que vai servir para uma pequena horta que pode ser produzida em apartamentos. Quem tem um pouco mais de espaço, ou mora em casa, pode criar os chamados “quintais agroflorestais”, que é criar essa abundância alimentar ao redor da casa através da regeneração do solo. Na agrofloresta, faz se um consórcio de plantas de diferentes ciclos e tudo é plantado no mesmo dia (hortaliças, frutas e árvores). No primeiro mês já consegue fazer a colheita de rúcula; no segundo de alface; no terceiro, de berinjela. Depois vem a colheita das plantas de ciclo médio, como amendoim, abóbora e até de frutas. Entendendo um pouco sobre o ciclo de vida das plantas, é possível ter uma colheita farta.”
Ao adotar os princípios da agrofloresta, você passará a entender melhor a relação que existe entre a natureza e sua vida. Como produzir, descartar, como consumir e o que consumir… todas essas questões devem estar alinhadas com a preservação da natureza, uma responsabilidade que a Bemglô também preza. Como pontua Bento, fazemos parte da natureza e temos responsabilidade sobre ela: “Não estamos separados dos ciclos naturais.”
Confira abaixo como participar do curso:
SERVIÇO
Curso Básico de Agrofloresta Sintrópica
31 de maio, 1 e 2 de junho (feriado de Corpus Christi)
Valor (incluso todas as refeições): R$ 390 (sem hospedagem), R$ 420 (camping), R$ 450 (alojamento), R$ 550 (quarto na Ecovila Clareando)
Inscrições: [email protected] (11) 97130-3335
Sympla: https://www.sympla.com.br/curso-de-agrofloresta-sintropica__272690