Salve, Glorioses. Às margens do rio Xingu, onde mais de 150 mil hectares de floresta já foram degradados, cerca de 56 mulheres são as responsáveis pela plantação de mais de 1 milhão de árvores.
São as Yarang, do povo Ikpeng, que há uma década se reúnem na floresta em busca de sementes. Na língua Karib, Yarang quer dizer “formiga cortadeira”, e é assim que elas se identificam.
Sempre em época de floração, essas mulheres e crianças caminham mata adentro e sentam-se aos pés das árvores nativas. Elas cavam a terra com seus facões ou as próprias mãos em busca das sementes e comem os frutos caídos para retirar de dentro o caroço. Ao final de uma tarde, voltam apenas quando suas redes estão cheias.
Na cultura Ikpeng, a mulher tem posição central de responsabilidade, não só com a aldeia como também com o mundo. A atividade de reflorestamento começou com os homens, mas logo foi tomada pelas mulheres, que têm conhecimento profundo da mata.
O pajé, porém, sempre vai junto, para conversar com os espíritos e pedir permissão para a coleta. Tudo é feito em harmonia.
Quando voltam da mata, elas vão para uma Casa de Sementes, dentro da própria aldeia, onde lavam as sementes e as deixam secar no sol. O destino é a Associação Rede de Sementes do Xingu, que comercializa e gera renda para a aldeia.
A Associação reúne mais de 500 coletores de sementes por todo o Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso, mas estima-se que as Yarang, sozinhas, são responsáveis pela coleta de mais de 10 toneladas de sementes.
O curioso é que o entorno das aldeias Arayo e a antiga Moygu, território dos Ikpeng, não precisa de reflorestamento, afinal está sob cuidado dos indíos. As sementes são destinadas a pontos mais ao sul e norte da bacia dos rios Xingu e Araguaia. Como relata a líder Koré Ikpeng, “os brancos, responsáveis pelo desmatamento, não têm mais onde coletar sementes. Então usam nossa semente para fazer a floresta deles de novo”.
Nem sempre as Yarang conseguem ver na prática o resultado de seu trabalho e os mais de 6 mil hectares de floresta já recuperados, mas continuam ainda assim. E elas não descansarão até o último hectare reflorestado.
E como podemos nos inspirar e colocar em prática na vida urbana? É simples! Sempre que comer uma fruta, faça como as Yarang e separe essas sementes. Lave-as, deixe secar e espalhe pela natureza. Ou se preferir, plante. A natureza tem a tecnologia mais avançada e dará de conta do restante.
Um beijo e até a próxima Quarta Gloriosa.