Serpente Cósmica
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Serpente Cósmica

Serpente Cósmica

Qual a relação entre os conhecimentos dos povos originários e o saber da ciência? Ambos podem caminhar juntos? “A Serpente Cósmica: O DNA e a Origem do Saber” é um livro do antropólogo Jeremy Narby que vem nos mostrar que é possível construir uma ponte além do tempo e espaço entre esses dois universos, tão ricos quanto complementares.

Sinopse: “A meu ver, assuntos como o DNA e o saber dos povos indígenas são importantes demais para serem confiados exclusivamente ao olhar focado dos universitários especializados em biologia ou antropologia: concernem aos próprios indígenas, mas também às parteiras, aos agricultores, aos músicos e a todo tipo de gente. Ao contar minha história pessoal, quis criar uma narrativa que fosse compreensível pelas diversas disciplinas e fora do meio acadêmico.”

Jeremy Nerby

“A Serpente Cósmica” foi escrito em 1995 mas chegou ao Brasil em 2018 pela Editora Dantes e tradução de Jorge Bastos, responsável por livros como “Einstein: O Prazer de Pensar”, de Françoise Balibar, e “O Mistério dos Deuses”, de Bernard Werber.

É a primeira publicação da bibliografia de Narby, que reúne também “Shamans Through Time: 500 Years on the Path to Knowledge” (Xamãs através do tempo: 500 anos no Caminho do Conhecimento), de 2001; “Intelligence in Nature” (Inteligência na Natureza), de 2005; e “Psychotropic Mind: The World Accordind to Ayahuasca, Iboga and Shamanism” (Mente Psicotrópica: O Mundo Segundo a Ayahuasca, Iboga e o Xamanismo), de 2010, todos em tradução livre.

Os estudos para “A Serpente Cósmica” começaram quando Jeremy Narby estudou a ecologia dos povos Ashaninka, no Vale do Pichis,  Amazônia peruana, durante a sua pesquisa de Doutorado em antropologia para a Universidade de Stanford. Em contato com os povos originários, e compartilhando com eles o conhecimento da botânica local, pôde também mergulhar em suas mitologias e saberes ancestrais. Foi quando, ao longo de dois anos de vivência cotidiana, aprofundou-se na relação dos povos indígenas com as plantas medicinais da Amazônia.

O que para muitos são somente ervas alucinógenas, Nerby descobriu que para os povos Ashaninka eram métodos de se deslocar do mundo material, se aprofundar no próprio subconsciente e compreender os mistérios da vida e da percepção humana. Se aprofundou no uso da Ayahuasca, bebida que induz ao estado de êxtase a partir da videira Banisteriopsis caapi com várias plantas e outras ervas como Psychotria viridis e a Diplopterys cabrerana. Seu uso, muito associado a ritos religiosos, tem como origem a medicina tradicional dos povos da Amazônia.

A origem do saber

Dentre a mitologia ancestral, as serpentes cósmicas são visões, sob estado alterado de consciência, que induz o xamã a acessar os maninkari, espíritos invisíveis que habitam todos os organismos vivos. Nessas vivências de transe, os xamãs Ashaninka vivenciam uma verdadeira investigação científica para compreender a cura de doenças e o que compõe a vida humana.  O autor, que também fez uso da Ayahuasca, passou então a relacionar a experiência de transe, e as visões das serpentes cósmicas, com a biologia molecular.

Serpentes mitológicas podem ser simples e duplas, pequenas e grandes, fontes de vida e mestres de transformação. As moléculas de DNA são precisamente entidades simples e duplas em forma de serpente, que são minúsculas e longas, e que detêm a chave para a vida e suas múltiplas transformações.” (Ao Globo)

No conhecimento xamânico, as serpentes são a fonte para a cura que as plantas medicinais proporcionam, dançando entre si na origem de toda a vida. O que Nerby destaca em no livro “Serpente Cósmica”, aliando suas próprias experiências pessoais ao conhecimento científico, é a correlação entre o mito das serpentes primordiais da vida à estrutura do DNA, presente em todo ser vivo desde sua concepção.

A publicação foi revolucionária por propor que a estrutura descoberta por James Watson e Francis Crick somente em 1953 já viria a fazer parte da sabedoria indígena há séculos. Através da ciência, busca validar a mitologia indígena correlacionando conhecimentos historicamente apartados. Pelo transe natural, os xamãs estariam portanto produzindo ciência, buscando acessar a origem molecular de todo ser, encontrando nas serpentes as estruturas do DNA, suas influências no corpo humano, nas doenças e em sua cura.

Tal como as serpentes míticas, o DNA se apresenta como o mestre da transformação. Todas as informações que existem nas células do DNA são feitas do ar que respiramos, da paisagem que vemos, e da vasta diversidade de seres vivos dos quais fazemos parte.” (p. 92)

Para a biologia moderna, a natureza é inanimada e incapaz de se comunicar. A hiótese de Jeremy Nerby aponta justamente para o contrário: o que a ciência chama de DNA corresponde à essência que os xamãs dizem se comunicar. Sua pesquisa iniciou buscando compreender a comunicação com as plantas, e terminou propondo que a mente humana é tão profunda que é capaz de se comunicar com a base da própria vida quando em estado de consciência alterado pelo poder das ervas medicinais. Leia  A Serpente Cósmica clicando aqui.


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