O Complexo da Maré é um conjunto de 16 comunidades e mais de 130 mil moradores na zona norte do Rio de Janeiro que apesar dos limitantes sociais e econômicos têm transformado a própria realidade através da iniciativa comunitária. O Redes da Maré é fruto desse envolvimento, e atua há mais de 20 anos para a promoção do desenvolvimento social e igualitário dos moradores do Complexo.
Os movimentos sociais sempre estiveram presentes na Maré e na periferia do Rio de Janeiro, mas foi por volta de 1997 que moradores e ex-moradores se uniram para criar dentro do complexo um ponto em comum entre as diferentes comunidades que o formam e criar, de morador para morador, opções de lazer, ocupação profissional.
Um dos principais pontos que caracterizavam a desigualdade entre os moradores da Maré era o difícil acesso à educação sobretudo superior, desafio ainda latente na realidade carioca, e foi com um curso preparatório comunitário e gratuito que a Maré começou a fazer por si o que o poder público não garantia. Hoje, 22 anos depois, o projeto colaborativo que veio a ser o Redes da Maré já colocou mais de 1.000 jovens na Universidade e se desdobrou em diversos outros projetos.
Da Maré para a Maré
As ações desenvolvidas pelo Redes da Maré tem dois grandes pilares: a coletividade e o autossustento. Assim como na formação da organização, foram os próprios moradores que estiveram à frente, ainda hoje são eles os protagonistas dessa história. Ainda que, com o desenvolvimento da Rede, apoiadores tenham surgido para somar.
“Em 2007, acontece a formalização da instituição com esta denominação de ‘Redes da Maré’, ao partir do entendimento de que o exercício da cidadania dos moradores na cidade deve estar sustentado em um projeto abrangente e processual que valorize o papel social dos cidadãos, suas ações coletivas e que tenha, como pressuposto, o respeito às diferenças e à diversidade, bem como a crítica às desigualdades sociais atualmente existentes no País e no Rio de Janeiro.”
Entre as atividades desenvolvidas pelo coletivo, estão programas de desenvolvimento sustentável e reflorestamento, construção de um centro de arte e biblioteca pública, sistematização de dados e fórum de violência, dentre muitos outros. Cada ação se enquadra em algum dos eixos: “Arte, cultura, memórias e identidades“, “Desenvolvimento territorial“, “Direito à segurança pública e acesso à justiça“, e “Educação”. Clique no título para conferir todas as ações desenvolvidas nas últimas décadas.
“Essas atividades têm como objetivo estimular a reflexão sobre as questões socioambientais do território e, a partir desse processo, intervir para a melhoria desses espaços com mutirões de arborização e pautar o meio ambiente dentro de uma agenda mais estruturante para o território. “
Em seu estatuto, a Redes da Maré contam com 11 objetivos principais. São eles:
1. Elaborar ações estruturantes que, em médio e longo prazo, se traduzam na garantia de direitos básicos para população da Maré, através de 5 eixos de atuação: Desenvolvimento Territorial, Educação, Direito à Segurança pública e Acesso à Justiça, Arte e Cultura e Identidades, Memórias;
2. Realizar um estudo de viabilidade da criação de um fundo comunitário para a sustentabilidade da organização;
3. Fomentar a criação de novos imaginários e narrativas que, ao romper com estereótipos, buscam a efetividade do direito à cidade para toda população da Maré;
4. Ter como prioridade elaborar ações nos campos étnicos, raciais, gênero e de orientação sexual, a fim de diminuir o preconceito e o racismo;
5. Aumentar o aproveitamento educacional e o tempo escolar dos moradores da Maré;
6. Ampliar o acesso à formação qualificada, à geração de renda e o acesso à direitos da mulher;
7. Possibilitar a democratização e ampliar o acesso à arte aos moradores da Maré e de seu entorno;
8. Compreender o cotidiano dos moradores da Maré através de pesquisas e levantamentos;
9. Buscar uma articulação territorial maior, mobilizar figuras-chaves e instituições locais;
10. Atuar para maior incidência nas políticas públicas a partir de Campanhas e advocacy;
11. Mobilizar os moradores das 16 favelas da Maré para construção de alternativas que garantam, em médio e longo prazo, o acesso à justiça e a efetivação de direitos básicos para o conjunto da população ali residente.
Futuro da Maré
Além de todos os projetos que desempenha, o Complexo da Maré ainda tem uma Ação Civil Pública, a primeira ação judicial coletiva sobre Segurança Pública para favelas do Brasil. A ação pública é um processo previsto em Constituição que tem como objetivo garantir os direitos de um grupo, e no caso da Ação Civil Pública da Maré “garantir o respeito a leis já existentes bem como o direito de ir e vir e o respeito a vida de todas as pessoas que vivem na Maré”.
A Ação teve início em 2017, conectando a Redes da Maré e a Associação de Moradores à Defensoria Pública do Ministério Público, prevendo construir pontes e uma série de medidas para diminuir os riscos e anos durante confrontos armados e operações de segurança. Como resultado vieram instalação gradual de câmeras de vídeo e gás, disponibilização de ambulâncias em dias de operações e um plano de redução de danos. Direitos esses conquistados por iniciativa popular. Dois anos depois, porém, a Ação Civil foi suspensa e volta a ser uma pauta de luta da Rede. Clique aqui para saber mais.
Com “interesse comum de trabalhar, de forma integrada e abrangente, com temáticas relativas à cidade do Rio de Janeiro e, mais especificamente, aos seus espaços populares”, a Redes da Maré é uma iniciativa comunitária inédita no país e exemplo de atuação, buscando dentro da comunidade seus talentos e fora dela os parceiros necessários para potencializar a própria independência cultural, educacional e social.
Seja você um morador da comunidade, da zona norte, da cidade do Rio de Janeiro ou um apoiador, não deixe de acompanhar o que a instituição tem feito por seus moradores. Acesse aqui o site oficial e redes sociais: Facebook, Instagram, Twitter e Youtube. Saiba como apoiar clicando aqui.