A poesia de Cora Coralina
Quarta Gloriosa

A poesia de Cora Coralina

A poesia de Cora Coralina

Salve, Glorioses! Neste Dia Nacional da Poesia, vamos falar de Cora?

Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, ou apenas Cora Coralina, já tinha 75 anos quando lançou seu primeiro livro: Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. Cora só estudou até a quarta série. Mas toda a sua vivência, distante até mesmo da gramática, é que fez dela uma das grandes poetas da língua portuguesa do século XX.

O reconhecimento nacional veio quando Carlos Drummond de Andrade publicou a crônica “Cora Coralina, de Goiás” no Jornal do Brasil em 1980.

Assim é Cora Coralina, repito: mulher extraordinária, diamante goiano cintilado na solidão e que pode ser contemplado em sua pureza no livro Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. Não estou fazendo comercial de editora, em época de festas. A obra foi publicada pela Universidade Federal de Goiás. Se há livros comovedores, este é um deles.”

Depois vieram Meu Livro de Cordel (1976), Vintém de Cobre – Meias confissões de Aninha (1983) e Estórias da Casa Velha da Ponte (1985).

Cora sempre saudou as suas memórias da infância, as dores pelas quais passou e a Cidade de Goiás e sua casa, onde nasceu e hoje é o Museu Cora Coralina. A sua poesia é marcada pela voz de uma mulher sábia, que assistiu a chegada do século XX e passou a vida escrevendo. O primeiro texto fez aos 14 anos e desde aquela época já publicava nos jornais da região. A vida então levou Cora para o interior de São Paulo, onde trabalhou com comércio e continuou a colaborar com jornais da época. Retornou a Goiás em 1956, onde viveu até a sua morte. Dois anos antes de falecer, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da UFG (1983).

Todas as vidas (trecho) – Cora Coralina

Vive dentro de mim

a mulher do povo.

Bem proletária.

Bem linguaruda,

desabusada, sem preconceitos,

de casca-grossa,

de chinelinha,

e filharada.

Vive dentro de mim

a mulher roceira.

– Enxerto de terra,

meio casmurra.

Trabalhadeira.

Madrugadeira.

Analfabeta.

De pé no chão.

Bem parideira.

Bem criadeira.

Seus doze filhos,

Seus vinte netos.

Vive dentro de mim

a mulher da vida.

Minha irmãzinha…

tão desprezada,

tão murmurada…

Fingindo ser alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim:

Na minha vida – a vida mera das obscuras.

Hoje Cora acumula livros e prêmios póstumos, e ainda vive. “Este livro foi escrito por uma mulher que no tarde da Vida recria e poetiza sua própria Vida”, ela conta no livro de estreia.  Viva Cora!

Um beijo e até a próxima Quarta Gloriosa.


LOJA BEMGLÔ