Para encerrar um ano dedicado à negritude, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) inaugurou a mostra “Nostalgias Africanas”, do pintor, advogado e jornalista uruguaio Pedro Figari e que segue em cartaz até fevereiro de 2019. A exposição reúne 63 obras do pintor, que retrata a cultura afro-uruguaia em cenas do cotidiano, como danças e celebrações religiosas.
Obra “Nostalgias Africanas”, de Pedro Figari
A exposição que leva o nome de uma de suas obras apresenta ao público a cultura negra do latino Uruguai pelo seu lado mais festivo, com cores fortes e desenhos imprecisas como característica do estilo expressionista de Figari. O pintor nasceu em 1861, apenas 19 anos depois da abolição da escravatura em seu país, mas suas obras buscam subverter os anos de retrocesso para recriar a memória do povo afro-uruguaio a partir de sua própria cultura. As pinturas rememoram rituais festas populares, rituais religiosos como funerais e casamentos, além de um rico registro de danças como o candombe (dança acompanhada de tambores) que dá nome a outro de seus quadros.
“Para além da natureza, do erotismo e do mundo do trabalho, Figari representa as populações negras de seu país através de cenas da vida comum, que revelam a complexidade dos modos de vida daquelas pessoas.” (Catálogo da mostra)
A exposição é resultado da parceria entre o Masp com os uruguaios Museo Nacional de Artes Visuales e Museo Figari. A curadoria também é partilhada entre Pablo Thiago Rocca, diretor do Museo Figari, e Mariana Leme, curadora assistente do Masp. Desse esforço conjunto nasceu a exposição que é dividida em seis eixos. O primeiro reúne as obras ligadas às expressões artísticas como a dança do Candombe; o segundo foca nas representações do Dia de Reis, comemoração híbrida da festa católica dos Reis Magos; o terceiro eixo aborda os Convntillos, casas coletivas comuns em Montevidéu (capital do Uruguai) entre os séculos 19 e 20 e funcionavam como moradias de resistência negra. Já no quarto conjunto estão os casamentos enquanto no quinto estão as solenidades fúnebres. O sexto e último grupo da Exposição representa a escravidão, abolida no país 46 anos antes da escravidão brasileira.
“A rica cultura afro-uruguaia representa a memória dos africanos forçados a migrar e escravizados na região, e também se constitui como importante resistência cultural, que unifica a comunidade e constrói sua identidade em oposição aos ideais racistas propostos pela sociedade colonial.”
Pedro Figari foi um dos maiores nomes da arte latino-americana, e apesar de viver boa parte de sua vida na Europa, encontrou na arte um meio para se reconectar com a sua própria ancestralidade. As realidades retratadas em suas pinturas não foram vividas por eles, mas contadas geração a geração e eternizadas na história. “Nostalgias Africanas” está aberta a visitação em São Paulo até 10 de fevereiro de 2019, de onde partirá para temporada no Uruguai.
O Museu de Arte de São Paulo fica na Avenida Paulista, 1578, com funcionamento de 10h às 18h e ingressos a R$35 com meia entrada para estudantes, idosos acima de 60 anos, professores e portadores de necessidades especiais com direito a acompanhantes. Às terças-feiras, a entrada é gratuita e o funcionamento amplia até 20h.