Foi em 1862 que surgiram os primeiros passos do que viria a ser Paranapiacaba, uma pequena vila inglesa que permanece intacta ao lado de São Paulo. Foi naquele ano que dezenas de britânicos chegaram a São Paulo para a construção da The São Paulo Railway, primeira rodovia ferroviária do estado, inaugurada 5 anos antes. Da capital ao Porto de Santos, a ferrovia transportava passageiros e carga, e em 1874 a rota ganhou a estação Alto da Serra, mais tarde denominada Paranapiacaba. Naquele ponto viveram diversos operários e imigrantes que trabalharam naquelas construções. Ainda hoje, visitar a pequena vila é como voltar ao tempo. Os dormitórios, chamados de Casa dos Solteiros, permanecem no mesmo lugar. Assim como o grande mercado e o salão de festas. A casa do engenheiro-chefe, ao topo da colina, hoje é um museu que mantem viva todas essas lembranças.
Paranapiacaba vem do tupi e significa “lugar de onde se vê o mar”. Não poderia ser diferente para o vilarejo em meio às neblinas no alto da Serra do Mar. A vegetação que contorna Paranapiacaba e a umidade vinda do Oceano Atlântico a poucos quilometros garantem o frio da região: não mais de 20 graus nos meses mais quentes do ano. No inverno o frio é tanto que hoje o pequeno distrito é palco para um festival que na estação recebe mais de 100 mil turistas ao final de semana. Mas este não é o único motivo para que muitos cheguem à vila em busca de seus encantos.
Visita histórica em Paranapiacaba
Todos os domingos, pontualmente às 8h30 da manhã, o chamado Expresso Turístico parte da Estação da Luz, no coração de São Paulo, rumo a Paranapiacaba. A viagem de 48km já faz da visita a Paranapiacaba um retorno ao passado. Este é o trajeto pelo qual muitos fizeram há um século atrás. Na chegada, a certeza de ter atravessado um portal no tempo: na Estação Ferroviária, os sinos do Big Ben, uma réplica do original Londrino trazida diretamente da Inglaterra anuncia o ponto final. Dali, o principal destino é a simples caminhada pelas ruas estreitas da vila, algumas de pedra, outras de terra, entre as incontáveis casas de madeira. As construções são de pinho de riga, vindos do Leste Europeu para a construção da vila inglesa. Muito do que era residência, hoje se tornou atração turística.
Museu do Castelo
O grande destaque é o Museu do Castelo, instaurado na residência que fica no mais alto pico da vila. Ali vivia Frederic Mens, engenheiro chefe da ferrovia, que dali conseguia avistar tudo o que ocorria com os operários. A casa é de 1897 e em meio às brumas, e tão no alto, não parece menos que um castelo. A visita é obrigatória, pois é o coração das memórias de Paranapiacaba. Mas as casas dos trabalhadores também são pontos de mesmo interesse. As “Casas dos Engenheiros” são as de alto padrão, e as “Casas dos Solteiros” os dormitórios dos que também trabalhavam ali. Hoje são restaurantes, ateliês e galerias.
O Clube União Lyra Serrano é outro destaque ao centro da vila, assim como o Grande Mercado logo à frente. O Lyrra é de fato a união de dois antigos clubes: o Lyra da Serra, onde se projetavam filmes e organizavam bailes, e o Serrano Atlético Clube, para esportes. Hoje é onde se organizam os principais festivais da região. O antigo mercado, de 1899, após anos abandonado tornou-se outro principal centro cultural após ser restaurado pela prefeitura de Santo André.
Contato com a natureza
Além de tanta história humana, a natureza também se encarregou de fazer de Paranapiacaba um destino memorável. Além das colinas que circulam a vila com mata fechada e fazem das vielas um refúgio escondido, Paranapiacaba possui um Parque Natural Municipal onde ao menos seis trilhas reconhecidas, em meio à Mata Atlântica, são cruzadas por turistas de todo o país. Outras atrações são as nascentes do Rio Grande, e a vasta fauna silvestre.
Acampar nas matas da vila é proibido, mas há alguns quilômetros dali é possível encontrar campings que fazem da atividade possível. Cachoeiras também não são difíceis de se encontrar, até mesmo ao fundo de casas e pequenas pousadas da região. A natureza é tão presente em Paranapiacaba, que extrapola os limites do parque e faz de toda a vila um recanto. Não há intenso fluxo de carro da vila inglesa, e a maioria dos trajetos de faz a pé. Se o que procura é este contato com a natureza, conecte-se com a tranquilidade de Paranapiacaba.
Celebração e cultura
Para além de toda a calmaria, Paranapiacaba é também um destino cultural único. O Festival de Inverno é a maior das festividades da vila, e as poucas pousadas esgotam meses antes de julho, quando costuma ocorrer o evento. Exposições artísticas, apresentações musicais e feiras gastronômicas tomam as ruas da vila. Visite o site e fique atento às datas para a edição de 2018.
Já no começo do ano, o Festival do Cambuci celebra o fruto típico da Mata Atlântica. Muita bebida e comida é preparada com o fruto nos finais de semana de abril. O restaurantes familiares ficam cheios de turistas querendo provar os pratos típicos, assim como comprar nas feiras livres pelas ruas. Em um final de semana, o ciclo de turistas chega a 20 mil.
Mas para além do tradicional, há 14 anos a história de Paranapiacaba é marcada por um evento mágico: a Convenção de Bruxas e Magos de Paranapiacaba. Com palestras, rituais ao ar livre e muita festa, a vila recebe pagãos de todos o país sempre ao final do mês de maio. Além de participar das atividades, os visitantes podem comprar produtos esotéricos e particpar da procissão das bruxas, sempre na abertura e encerramento do evento.
É notório que Paranapiacaba é um baú de histórias, recanto e mistério. A pequena vila-dormitório de operários hoje se transformou no distrito de Santo André e um dos destinos mais icônicos da grande São Paulo. Quando estiver pela capital, não deixe de se perder pelas vielas do vilarejo inglês.