O Mundo no Black Power de Tayó conta a história de Tayó, uma menina negra, com o cabelo crespo em um penteado black power, cheia de orgulho de sua beleza, cultura e ancestralidade. Em tirinhas infantis, a autora Kiusam de Oliveira inspira meninas negras a amarem seus corpos, se sentirem confortáveis com a própria aparência, e compartilha uma linda mensagem de orgulho e aceitação.
O livro foi lançado pela Editora Peirópolis em 2013 e é a terceira publicação de Kiusam, autora também de O Mar que Banha a Ilha de Goré (2015) e Omo-oba: Histórias de Princesas (2009), todos permeando o universo rico da história e cultura afro-brasileira, tão importante para a nossa identidade e diversidade. Ambos os livros remontam a ancestralidade. Omo-obra reconta seis mitos africanos muito divulgados nas comunidades de tradição ketu, de uma das mais antigas capitais dos iorubás. Já O Mar que Banha a Ilha de Goré rememora com muita sensibilidade as viagens de africanos escravizados a partir do século XVI.
O Mundo no Black Power de Tayó, o segundo a ser lançado, permeia também pelo passado mas a sua discussão finca suas raízes no hoje: a discriminação de jovens e meninas sofrem diariamente em meio a uma sociedade contemporânea que nega a imagem estética das crianças negras, tornando ambientes de socialização que deveriam ser de expansão de consciência, como a escola, em ambientes de memórias traumatizadas.
Tayó: uma criança brasileira entre muitas
Tayó, protagonista do enredo, tem as piadas como rotineiras quando se trata de seu cabelo, mas este deveria, e virá a ser, o maior símbolo de orgulho de sua história. Com uma linguagem leve, e ilustrações lúdicas de Taisa Borges, o livro leva para crianças negras a alegria de ser feliz enquanto criança negra, transformando o preconceito em uma bandeira de inclusão e valorização da própria cultura.
O Brasil tem população majoritariamente negra, 51%, e ainda assim a branquitude predomina os espaços de saber e produção de ciência e cultura. As propagandas de televisão tem protagonistas brancos em sua maioria, assim como as novelas, o cinema, a música, a academia e mesmo a literatura. Quando se aprofunda no mercado da literatura infantil, o contraste entre autores brancos e negros e, principalmente, entre personagens infantis brancos e negros, destaca-se ainda mais.
Kiusam de Oliveira, doutora em educação, refresca este cenário quando traz uma série de livros infantis que colocam a criança negra no centro protagonista e sua própria história. Uma autora negra, escrevendo para crianças negras, com personagens que simbolizam a trajetória que muitas desses jovens leitores compartilham. É um exemplo de representatividade.
Tayó e representatividade
Tayó, que significa “da alegria” no idioma iorubá, simboliza a celebração à cultura negra. Aos seis anos, não se deixa impactar pelo contexto de opressão, celebra a sua etnia e os seus traços, e sua história é contada de forma leve, com sensibilidade e informação, permeando termos e linguajar tradicional e remontando o movimento black power, com origem desde os anos 20, tão importante para o empoderamento negro norteamericano e que se desdobrou também no Brasil. Confira abaixo a contação promovida pelo canal Futura.
“A criança conhece o racismo no espaço escolar entre os coleguinhas de classe e profissionais da educação. É nesse espaço que as crianças negras ouvem frases do tipo “minha mão falou para eu não brincar com você porque você é preta” ou “você é feia porque é preta” ou “o seu cabelo é duro, bombril”. Assim, a criança negra começa a perceber que sua vida não será fácil porque pautada pela cor de sua pele, tipo de cabelo e pela exclusão. Desta forma, a criança negra começa a desenvolver uma autoimagem negativa que incide no processo de construção de identidades positivas e saudáveis e no seu aproveitamento escolar porque no início de nossas vidas, construímos nossas identidades a partir dos olhares dos outros, do que os outros dizem que somos.” (Kiusam para o portal Geledes)
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