Esqueça tudo o que você sabe sobre tecidos. O que você vai ver, na exposição NUNO – POÉTICAS TÊXTEIS CONTEMPORÂNEAS, é fruto de uma pesquisa tão revolucionária que é reconhecida internacionalmente por ampliar as fronteiras do design têxtil contemporâneo.
A responsável por isso é a designer japonesa Reiko Sudo, desde 1994 à frente do laboratório de pesquisa têxtil NUNO –palavra que significa tecido, em japonês, e se pronuncia ‘nunô’. Seu trabalho experimental consiste em misturar materiais, técnicas e processos, para criar tecidos inovadores, intrigantes e únicos. Em muitos deles, técnicas ancestrais de tecelagem são reinterpretadas com tecnologias de ponta.
“Me encanta essa qualidade do design japonês de se basear na tradição para dela extrair uma inovação muito grande. Não há rompimento, há uma continuidade”, diz Adélia Borges, crítica e historiadora de design que assina a curadoria da mostra em parceria com Mayumi Ito, consultora e fundadora do projeto comunitário Amaria.
Para a exposição, a dupla de curadoras selecionou 35 tecidos, feitos de matérias-primas inusitadas, como fibra de bananeira, papel, aço inox, plástico; ou convencionais, como seda, algodão, poliéster e feltro. As técnicas de fabricação desses tecidos variam entre o manual e o industrial, com toques poéticos, como tingimentos feitos à partir de ferrugem, dobraduras em formato de origami e até mesmo inserção de plumas.
A variedade e a beleza das tramas encanta o olhar e convida ao toque. Por isso, Adélia Borges e Mayumi Ito, disponibilizaram, em um painel, pedaços dos artigos, para que sejam tocados pelos visitantes.
No centro da sala da exposição, Pedro Mendes da Rocha, arquiteto responsável pela expografia, criou uma árvore estilizada, de cujos galhos pendem os tecidos. Tudo a ver com o caráter ancestral da tecelagem na história da humanidade.
Afinal, a relação entre corpo humano e tecido remonta aos primórdios da civilização. “O tecido é o primeiro abrigo do homem. Quando ele começa a se cobrir com peles de animais para se proteger do frio, cria a primeira interferência de design sobre o corpo“, explica Adélia Borges.
Tecidos inovadores e sustentáveis
Em termos de sustentabilidade, há tecidos feitos com materiais que seriam descartados, como o kibiso, invólucro do casulo da seda, que por ser uma parte mais rígida, era usado apenas em produtos de baixo valor agregado. Através de pesquisas, a equipe da NUNO conseguiu que a fibra do kibiso chegasse a um décimo da sua espessura original, ganhando maciez, flexibilidade e novas possibilidades de uso. Outro exemplo, é o reuso de tecidos encalhados, reinventados na forma de um patchwork contemporâneo.
Por considerar o processo de criação dos tecidos essencial à compreensão do seu valor, Adélia Borges incluiu na mostra, vídeos e um mural, que exibem várias etapas da pesquisa têxtil. “Design não é uma inspiração que cai do céu, há um desenvolvimento, um método. Inclusive, vários desses tecidos possuem patentes, mostrando que há um grau de inovação muito alto”, diz.
A programação conta, ainda, com o seminário Diálogos Nipo-Brasileiros – Poéticas Têxteis Contemporâneas. “Fala-se muito sobre os caminhos dos estilistas, sobre o design de mobiliário, mas não sobre tecidos. O têxtil é um tema muito pouco debatido”, explica Adélia.
Para dar uma ideia da pluralidade de olhares e trabalhos em relação ao assunto, a dupla de curadoras convidou profissionais brasileiros que fazem investigações e experimentações na área têxtil. Nos dias 3 e 10 de setembro, estiveram na Japan House, para o seminário, os artistas têxteis Eva Soban, Renata Meirelles, e Alexandre Heberte; o jornalista Jackson Araújo, o estilista Renan Serrano, e a socióloga Nina Braga. No dia 8 de outubro, a última parte do seminário reunirá a artista plástica Hisako Kawakami, a estilista Flávia Aranha, e a designer Liana Bloisi. O evento é gratuito e as senhas podem retiradas com 1 hora de antecedência no local.
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