Entre a Caatinga e o Cerrado, em território que atravessa pelo menos quatro estados, as Quebradeiras de Coco Babaçu formam uma verdadeira comunidade tradicional no norte e nordeste do país conhecida como Filhas da Mãe Palmeira. Juntas, essas mulheres que comam mais de 400 mil sobrevivem da Palmeira de Babaçu, fruto de onde se reaproveita da casca à semente.
Das folhas e cascas são feitos cestos, palha e até cobertura das casas, enquanto das amêndoas são feitos óleos vendidos em todo Brasil. As quebradeiras de coco são as responsáveis pela coleta e separação de todas as partes quando os cocos caem no chão. São mulheres do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins que preservam esse conhecimento e também essas terras.
O desafio está justamente na posse das terras de Babaçu; grande parte dentro de fazendas que impedem o acesso dessas mulheres às palmeiras, quando essas não são derrubadas para o cultivo de soja e arroz. Leis municipais e em alguns estados, como no Tocantins, asseguram o acesso das comunidades tradicionais e quebradeiras às palmeiras, mesmo quando em territórios particulares, sob a Lei Babaçu Livre, implementada desde os anos 90 em alguns municípios desses estados.
No início da mesma década, em 1991, mulheres dos quatro estados se uniram no I Encontro Interestadual das Quebradeiras, em São Luís, Maranhão. Em busca de formação política e organização, fundaram a Articulação das Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu, atualmente Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB). Há 30 anos, a organização cria pontes entre diferentes movimentos locais e cooperativas como forma de promover debates, mantê-las informadas sobre seus direitos e pressionar os governos para cumprimento e expansão da Lei.
“Nossa luta continua porque sabemos que não existimos sem as florestas de babaçu, sem nossa Mãe Palmeira. E se não resistirmos, as florestas também deixarão de existir. Cuidamos da água e dos alimentos em nossas comunidades, e cuidamos da terra para agradecer o que ela nos dá. Por isso, afirmamos: floresta em pé é floresta com mulher!“
Um dos projetos do movimento é o Floresta Babaçu Em Pé e o Fundo Babaçu. O fundo é gerido de forma participativa pelo Comitê Gestor do Fundo Babaçu e financia grupos comunitários comprometidos com projetos socioambientais, que promovam agricultura e extrativismo de base agroecológica e econômico-solidária, além de ações voltadas à segurança alimentar e conservação da sociobiodiversidade existente nas florestas de babaçu.
Já foram lançados quatro editais mobilizando toda a comunidade, incentivando a produção desses pequenos grupos e potencializando a sua geração de renda.
Desde 2009, outra conquista para o movimento foi a Cooperativa Interestadual das Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu (CIMQCB), por onde produtoras de todos os quatro estados conseguem viabilizar a venda de seus produtos. Azeite, sabonete, farinha, sabão e artesanato em geral são algumas das produções. Conheça aqui.
O Brasil é plural e repleto de comunidades tradicionais; povos que pertencem a uma terra e preservam o seu cultivo e também cultura. As Quebradeiras de Coco Babaçu são uma dessas comunidades, que defendem a preservação da palmeira e tira delas o seu sustento sem derrubá-las. Pelo contrário, é com a floresta em pé que as Quebradeiras prosperam mais.
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