“Maria vai com as outras” é um termo do dito popular utilizado para oprimir mulheres ditas sem personalidade forte. Mas um grupo de meninas de Florianópolis decidiram se unir para ressignificar essa frase e criaram um projeto para promover o empoderamento de meninas jovens e adolescentes: o Marias Vão Com as Outras.
“Vivemos em uma época que esse ditado precisa ser ressignificado, que as tantas Marias precisam perceber que juntas são mais fortes e que elas podem sim ir com as outras. Maria representa a mulher e a menina brasileira, que juntas com as tantas outras mulheres podem fazer um mundo melhor para se viver.”
O projeto nasceu em 2017, inspirado no Curso de Desprincesamento da Escola de Desaprendizagem Sociocultural, apoiado pelo Escritório de Proteção de Direitos da Infância de Iquiaque, cidade do norte do Chile. Com o lema de “Desprincesada – La aventura de ser yo (A aventura de ser eu)”, o curso chileno ofereceu diversas oficinas, focadas em meninas de 9 a 15 anos, para estudar sobre a independência feminina, autodefesa, desenvolver autoestima e refletir sobre todas as possibilidades de ser uma menina livre, assim como o curso brasileiro. O Marias Vão Com As Outras ainda nasceu em simultâneo a outro projeto na mesma cidade, o Curso Para Meninas Livres.
Cursos de Desprincesamento
Ambas as iniciativas surgiram com mesmo propósito, mas dinâmicas diferentes. Enquanto a proposta do Curso Para Meninas Livres são oficinas mensais, o Marias Vão Com As Outras organiza-se em intensivo: cinco encontros seguidos com os mais diversos temas: contação de histórias anti princesas, improvisação teatral, vivência em dança de matriz africana, yoga, circo, encontros sobre bullying, gordofobia e sororidade, além de debates sobre gênero e relações contemporâneas. O Curso Para Meninas Livres, de forma similar, se organizou em temas como a relação com o corpo, trabalhos manuais, brincadeiras de rua, representatividade de meninas nas artes, teatro, oficina de zines, fotografia, bicicleta e literatura.
O principal de todas as iniciativas, seja brasileiras como a chilena, é o exemplo prático de mulheres se auto organizando para levar a sororidade, a união e fidelidade entre mulheres, para as gerações futuras. Nos três exemplos, mulheres e profissionais encabeçam as atividades e toda a organização dos projetos, sendo este um primeiro exemplo para todas as meninas que sonham em empreender, criar e serem donas do próprio sonho.
Marias e Sororidade
“Desprincesamento” é um termo-protesto à feminilidade e submissão compulsória que muitas meninas sofrem durante à infância, principalmente em ambientes que privam a vivência feminina e masculina pautados em estereótipo do que seriam modos, atitudes, cores e conhecimentos femininos e masculinos. Ao colocar meninas em contato com os esportes, a ciência, a bricolagem e as artes em geral, os cursos mostram às meninas que elas podem ser quem elas quiserem, sejam princesas ou astronautas. O empoderamento feminino não nega a essas meninas a experiência dos contos de fadas, mas coloca essa vivência infantil em meio a diversas outras formas de brincar e aprender.
“Em um mundo em que meninas são ensinadas a competir entre si, a serem inimigas, a desconfiarem umas das outras, a seguirem modas e padrões que não as representam, queremos mostrar que elas, juntas, podem ser diferentes e mais fortes. Nós, idealizadoras [do Marias Vão com as Outras], queremos mostrar que todas podemos crescer livres de preconceitos, ou melhor, capazes de enfrentá-los.”
Para a primeira edição do projeto, o Marias Vão com as Outras contou com financiamento coletivo. Foram arrecadados quase R$7.000 para custear equipamentos, espaço, profissionais e material. Para 2019, não há previsão de novo curso neste primeiro semestre. Mas não deixe de curtir a página do Facebook e, por que não, incentivar a realização de uma nova edição?