José Datrino, o Profeta Gentileza
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José Datrino, o Profeta Gentileza

José Datrino, o Profeta Gentileza

“Gentileza gera gentileza”. Você provavelmente já ouviu essas palavras, principalmente se esteve do Rio de Janeiro. Foi por ela que José Datrino, consagrado Profeta Gentileza, espalhou sua mensagem pelas ruas e murais do centro da cidade. Já idoso, com uma longa barba e roupa branca, Gentileza ficou conhecido nos anos 80 quando pintou 56 pilastras do Viaduto do Gasômetro, que leva até a Rodoviária Novo Rio, com mensagens de amor, paz e respeito pela natureza.

Profeta Gentileza: um homem de fé

José nasceu em 1917, na cidade de Cafelândia, interior de São Paulo, mas foi no Rio de Janeiro que formou sua família e sua transportadora, atividade essa que levou por toda a vida. Desde pequeno, porém, acreditava ter uma missão especial: levar uma mensagem de respeito ao mundo. Teve uma vida dura ao lado de nove irmãos e desde cedo trabalhou. Puxava carroça, vendia lenha e aprendeu a amansar burros para os transportes de cargas. Essa foi uma memória que José resgatava, quando dizia, já enquanto Profeta Gentileza, que agora amansava os burros da nação que não conseguiam olhar o mundo com os olhos de amor.

Já adulto e na capital carioca, José vivia com a família em Guadalupe, zona norte. Decidiu que era a hora de abandonar a empresa que tinha para andar pela cidade quando, numa noite, recebeu uma mensagem em sonho. Isso foi alguns dias depois do incêndio que tomou o Gran Circo Norte-Americano, em Niterói, e matou cerca de 500 pessoas. José montou no local uma horta e plantou um jardim, como forma de levar conforto para as famílias das vítimas. Desde então passou a compartilhar seus pensamentos e recebeu o apelido de Profeta Gentileza.

Uma mensagem poderosa

Gentileza era um homem de fé. Acreditava que caminhando pela cidade poderia fazer muito mais pelas pessoas, levando palavras de carinho. Ficou conhecido por caminhar pelos bairros do Rio de Janeiro com uma túnica branca, flores e uma placa com suas frases pintadas. “A gentileza é como a criança dentro de nós, basta deixar que ela exista”, diz um de seus pensamentos mais famosos. “Gentileza gera gentileza”, tão simples mas transformador, hoje é símbolo da capital carioca e estampa os mais diversos souvenires.

Nos anos 80, Gentileza pintou 56 pilastras do Viaduto do Gasômetro, conhecido como Viaduto do Caju, com cerca de 1,6 km de extensão desde o Cemitério do Caju à Rodoviária Novo Rio. Ele enumerou cada uma delas e pintou com suas frases que promovem maior integração com a natureza, amor ao próximo como irmão, cumplicidade, fé e uma dura crítica ao dinheiro. Ele abdicou de tudo para espalhar esses pensamentos, ainda que mantivesse contato com a família apesar de boatos de que vivia só.

Após a sua morte, em 1996, as pilastras chegaram a ser pintadas pela então prefeitura, removendo dali toda a sua memória. A revolta foi tamanha que em 1999 se iniciou um processo de restauro das obras. No início de 2000, os murais foram tombados como patrimônio da cidade.Esse episódio é cantado por Marisa Monte, na música de nome ‘Gentileza”, em homenagem ao Profeta:

Outra música em sua homenagem também leva o nome de “Gentileza”, dessa vez na voz de Gonzaguinha. Ele canta: “Feito louco pelas ruas com sua fé… Gentileza O profeta e as palavras, calmamente semeando o amor à vida, aos humanos, bichos, plantas, terra… Terra nossa mãe.” (ouça aqui)

Hoje, poucos podem se lembrar desse homem que foi tão importante para a memória das ruas do Rio de Janeiro, mas quem passa sob o viaduto que leva à rodoviária ainda lê e reflete sobre suas palavras. Nesse Dia Mundial da Gentileza, não há outra história que poderíamos compartilhar que não a de alguém que deixou tudo para trás apenas para fazer o outro enxergar como o mundo pode ser um lugar melhor.

Gentileza gera gentileza. Sempre.


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