A Índia é o segundo país mais populoso do mundo, com aproximadamente 1,2 bilhão de habitantes, mais de 21 línguas nacionais e uma vasta diversidade cultural. Há muitos tabus em torno da experiência de ir para um país com culturalidades tão distintas, principalmente quando se é mulher. Ana Corneau é uma internacionalista que teve a oportunidade de viver neste país e compartilha um pouco das riquezas e distinções deste destino para mulheres:
“Sempre tive vontade de ir para a Índia, desde muito pequena. Gostava das cores e paisagens que via nas imagens e filmes. Os anos passaram e então em 2016, aos 22 anos, tive a oportunidade de trabalhar e mudar para lá, com uma passagem só de ida. Perdi a conta de tantos “Índia? Tá maluca?” ou “Não sabe que a Índia é um país perigoso?” que ouvi antes de ir. Vivi lá por 1 ano, e posso dizer que foi a experiência mais transformadora da minha vida. Uma viagem que recomendo para todos os homens e mulheres que conheço.
→ Choques Culturais
Ao chegar na Índia, nos sentimos como se tivéssemos aterrisado em outro planeta, absolutamente tudo é diferente: comida, roupas, idiomas e etc. Temos que nos adaptar e nascer de novo. O ponto positivo é que viajar por lá é muito barato e existem vários lugares incríveis para conhecer. No entanto, é recomendado que as mulheres se vistam cobrindo pernas e ombros cobertos, e que usem roupas largas para evitar chamar atenção. Em cidades como Mumbai e Déli até vemos algumas mulheres usando short ou regata, mas a realidade é bastante diferente para cidades menores, como Vadodara, lugar que eu morei.
É verdade que os indianos (homens, mulheres, crianças e idosos) olham bastante para os estrangeiros, principalmente para mulheres, mas na maioria das vezes, não é um olhar de assédio, e sim de curiosidade, do tipo “o que ela está fazendo aqui?”. O que pode incomodar mesmo é a enxurrada de perguntas inconvenientes de estranhos (“qual o seu nome?”, “de onde você é?”, “trabalha com o que?” e muito mais). Além disso, homens frequentemente tentam puxar assunto, seja no meio da rua, dentro de trens ou ônibus.
O melhor a se fazer nesses casos é ignorar ou responder alto e seco “não quero falar com você” ou “sou casada e meu marido está me esperando”. Ainda, também é recomendável não sorrir ou ser simpática com desconhecidos, para evitar o desgaste. Caso algum homem seja muito inconveniente, fale alto e grite. No geral, eles ficam assustados quando uma mulher levanta a voz para eles (não estão acostumados com essa atitude) e saem de perto.
→ É perigoso?
É preciso sim ter um pouco de precaução quando for viajar por lá. As indianas não costumam sair de casa sozinhas, principalmente em cidades pequenas. Dessa forma, quando mulheres andam sozinha pelas ruas e cidades, eles achavam diferente. É preciso tomar alguns cuidados importantes, por exemplo: evitar multidões ou lugares muito vazios e escuros, não falar com estranhos e andar de cara fechada. Além disso, anotar (no celular ou papel mesmo) o endereço do lugar que se está indo com todas as direções e informações importantes para não se perder também é muito importante. Cuidados esses que muitas vezes também são necessários no Brasil e em vários países desse mundo machista, infelizmente.
Outra dica é carregar um lenço para cobrir o cabelo quando necessário. As mulheres casadas cobrem o cabelo, então quando os homens veem alguma mulher usando lenços, respeitam mais. Também vale a pena comprar um chip de celular para ter acesso a internet e poder se comunicar com seus amigos e família sempre que possível.
→ Destino espiritual
A Índia potencializa nossa intuição, lá você vai aprender melhor a usá-la e ela será sua melhor bússola. Mas claro, é sempre bom pesquisar bastante sobre os lugares que você pretende ir, para ficar consciente dos riscos e saber o que você pode ou não fazer. Lá é possível conhecer lugares fascinantes como Rishikesh (cidade que serviu de retiro espiritual para os Beatles), Manali (lugar lindo rodeado pelas montanhas do Himalaia), Jaisalmer (também conhecida como “Cidade Dourada” que possui um forte enorme, templos e passeios no deserto que faz fronteira com o Paquistão) e muitos outros.
Apesar da Índia não ser esse lugar apenas de yoga, espiritualidade e meditação que estamos acostumados a ver por aí, é possível sim planejar destinos espirituais pelo país para focar no autoconhecimento e paz interior. É um lugar mágico que proporciona ótimas aventuras e histórias para contar.
→ Cidades da Índia imperdíveis para mulheres
Udaipur
O que você vai encontrar: uma cidade no Rajastão banhada por lagos, palácio e construções incríveis.
Por que ir: Udaipur é uma cidade segura para mulheres, com muitas viajantes solo e paisagens lindas que só o Rajastão consegue oferecer.
Munnar
O que você vai encontrar: uma peculiaridade que só existe no sul do país, além de lindas plantações de chá, florestas e montanhas que proporcionam ótimas trilhas.
Por que ir: é uma vila tranquila que proporciona ótimos passeios ao ar livre e com uma das melhores comidas da Índia.
Rishikesh
O que você vai encontrar: uma cidade rodeada pelas montanhas do Himalaias e banhada pelo rio Ganges limpo.
Por que ir: chance única de nadar no rio Ganges, fazer retiro espiritual, aprender yoga ou praticar esportes radicais como bungee jump e rafting
Não posso ser hipócrita em dizer que viajar na Índia sendo mulher é fácil, porque não é, mas também não é esse pesadelo que todo mundo fala. Dessa forma, se você também tem essa grande vontade de conhecer o país, vá! Assim como eu, você provavelmente vai conhecer outras mulheres inspiradoras viajando sozinhas também. No final dá tudo certo e a Índia te transformará para sempre. Vai por mim, a Índia é muito mais do que se imagina e lá você se descobre bem mais forte do que pensa.”
Colaboração: Ana Corneau