O plástico é um dos principais inimigos do meio ambiente, sendo o poluente encontrado em maior volume nos oceanos. Dos tipos de plástico, o Politereftalato de Etileno (PET) é o mais popular, pelo baixo custo de produção e decorrente popularização principalmente como garrafas PET. O baixo custo de produção, porém, faz também com que seu valor na reciclagem seja baixo e a natureza seja o seu principal destino final. Mas você sabia que esse material tão simples mas nocivo ao meio ambiente pode se tornar uma excelente matéria prima?
A história da Garrafa PET
Apesar de extremamente popular hoje, sendo utilizada como embalagem para praticamente todo tipo de líquido (bebidas, remédios, produtos de limpeza, etc), o PET chegou ao Brasil apenas ao final dos anos 80. Na indústria das bebidas, as garrafas desse material começaram a ser produzidas apenas em 1993. Até então, as garrafas de vidro eram o principal meio de comercialização, na lógica do retornável.
O material surgiu mesmo nos anos 40, como um composto têxtil após os danos da Segunda Guerra ao setor, até então baseada no algodão, linho e lã. A patente é da Calico Printers’ Association, uma companhia britânica, mas seu primeiro uso foi pela DuPont, segunda maior empresa química do mundo. No Brasil, o PET também chegou através da indústria têxtil, por ser um tipo de resina da família dos poliésteres, fibra popular na fabricação de roupas.
Os impactos ambientais
Apesar de serem 100% recicláveis e produzidas com o fim do reaproveitamento e não do descarte, as garrafas plásticas são de extrema violência para o meio ambiente. Por serem resistentes, levam pelo menos 100 anos para se decompor. Até lá, acumulam-se nos rios, mares e aterros sanitários.
Como aponta artigo do portal Segurança Tem Futuro, o PET possui em sua composição flatlatos (composto químico associado à diabetes e obesidade em homens) e xenoestrogênio (composto associado a doenças ovarianas como endometriose e síndrome do ovário policístico). Além disso, outra preocupação são os microplásticos, partículas quase invisíveis prejudiciais à vida marinha e também humana. Como aponta o portal ECycle, os materiais descartados na natureza passam por uma quebra mecânica pela chuva, ventos e ondas do mar, e as partículas que se formam absorvem todos os tipos de tóxicos e poluentes, contaminando os animais e toda a vida natural com que entra em contato. A proliferação é tamanha que hoje tais microplásticos são encontrados inclusive em nossa alimentação.
É tanto lixo plástico descartado na natureza que, em junho deste ano, o secretário-geral da ONU António Guterres fez um pronunciamento oficial afirmando que 8 milhões de toneladas de lixo plástico chegam ao mar anualmente e que a quantidade de microplásticos superam “as estrelas de nossa galáxia”. Confira:
Reciclagem
O PET foi uma invenção tecnológica que revolucionou a indústria das embalagens, sendo um material de extrema praticidade, baixo custo, leve, resistente e versátil, além de autossustentável, pois quando fundido retorna ao seu estado primeiro, pronto para sua reprodução. O problema, porém, está na precária logística de coleta, que faz com que 49% das garrafas PET não cheguem à reciclagem. Muitas cidades do país sequer têm coletas e mesmo nas grandes metrópoles não há fácil acesso às cooperativas ou informação clara de como fazer o descarte adequado.
Pensando nisso, Associação Brasileira da Indústria do PET (Abripet) coordena o LevPET, um sistema de busca para a destinação adequada do material. Nele, é possível encontrar as cooperativas e pontos de coleta mais próximos da sua casa, apenas inserindo o seu endereço. Clique aqui para acessar. O portal Recicloteca também tem um sistema similar. A diferença é que em seu mapa é possível encontrar pontos de coleta de diversos materiais recicláveis e não só o PET. Confira.
Uma vez destinados de forma correta, o PET transforma-se nos mais variados produtos e mostra-se uma excelente matéria prima. Sua importância é tamanha que a Abripet surgiu como uma indústria própria, à parte da Abriplat, a Associação Brasileira da Indústria do Plástico. Sobre a reciclagem, a Abripet informa que cerca de um terço do faturamento de toda a sua indústria vem da reciclagem, com crescimento anual de 11% a cada ano. Dessa reciclagem surgem carpetes e para-choques de carro, caixas de ovo, placas de sinalização, tintas, vassouras, novas garrafas, etc.
Como matéria prima
A partir da lógica da economia circular, onde o descarte de materiais volta para a cadeia produtiva como matéria prima, o PET transforma-se em diversos novos produtos. Aqui na Bemglô, temos como exemplo a nossa parceria com a Rede Asta, que desenvolve produtos com uma porção de cooperativas de artesãs que criam novos produtos a partir das garrafas. O Colar Rolotê é um desses produtos. As artesãs recolhem as garrafas, lavam, lixam e depois as filetam para dar a forma da mandala. É um exemplo de como o artesanato com recicláveis pode gerar renda, emprego e criar artes de bom gosto com um material tão simples. Aqui em nossa loja você encontra diversos outros produtos do bem.
Você sabia também que é possível construir casa com garrafa PET? A bioconstrução é uma forma de engenharia alinhada aos conceitos da sustentabilidade, e poucos sabem que é possível utilizar as garrafas como material para este tipo de construção. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) foi uma das primeiras instituições a testar essa substituição aos tijolos tradicionais. Como aponta o portal Met@lica, os estudos da Universidade comprovaram que paredes de PET poderiam ser tão resistentes ou até mais fortes que as convencionais. Nesse método, são 4 passos
Passo 1: molda-se as paredes com madeira e chapas de aço.
Passo 2: empilhar as garrafas dentro dos moldes e preencher com massa de cimento e areia, preparando as partes hidráulica e elétrica dentro dessa forma.
Passo 3: fazer o contrapiso em cimento, embutindo o encanamento, e unir as paredes ao chão com a ajuda de 10 cm de cimento.
Passo 4: Acabamento: instala-se as tomadas, interruptores, portas e janelas da casa. A cobertura foi feita com telha do tipo colonial.
O inventor dessa técnica foi o eletricista Antonio Duarte, e deu tão certo que foi replicada em outras construções como o Condomínio Sustentável Veredas do Lago Azul, no mesmo estado, que construiu todos os seus muros a partir da invenção. Em São Paulo, estudantes da Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Presidente Prudente conquistaram o 5º Prêmio Instituto 3M para Estudantes Universitários 2013 com um projeto similar. O grupo ganhou 30 mil reais para colocar o projeto Casa PET em ação. O resultado foi uma casa de 24 metros quadrados, dentro do campus, feita com 4 mil garrafas PET preenchidas com areia lavada e cimento. Além da contribuição ao meio ambiente, tirando da natureza esse tanto de plástico, a construção saiu 30% mais barata que uma convencional, utilizando 6kg de sacos de cimento a menos. Clique aqui para conferir essa história.
Outro projeto bacana dando um novo uso às PETs é o Stand Upet, uma prancha ecológica 15 vezes mais barata que uma convencional. O projeto é de um grupo de estudantes de Oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). O foco do grupo não é a comercialização das pranchas, mas o compartilhamento da técnica e da preocupação com o meio ambiente. Hoje realizam atividades abertas e mini cursos pelo Brasil, como Maranhão, Bahia e Rio Grande do Sul, além das atividades itinerantes no Rio de Janeiro. Acesse a página do Facebook para acompanharem de perto.
Como vocês puderam ver, o PET pode ser usado para praticamente tudo, desde a sua origem na indústria têxtil à construção civil. O importante, e fica esta a mensagem nesse #Atitude de hoje, é pensar soluções práticas e criativas para os problemas que afetam o meio ambiente e consequentemente a nós mesmos. A sustentabilidade é uma urgência, e a garrafa que descartamos na rua não é lixo, mas uma matéria prima que transforma vidas com boas ideias.