Foi com o objetivo de “fazer com que as pessoas da cidade conheçam a sua floresta” que o cantor e compositor Renato Teixeira, ao lado da filha Antonia, fez da casa de sua família um centro cultural em meio à Serra da Cantareira, a Casa na Floresta.
Nessa que é uma das maiores florestas urbanas do mundo, com com 64.800 hectares de área que cortam as cidades de São Paulo, Guarulhos, Mairiporã e Caieiras, já viveram Elis Regina, Os Mutantes, Almir Sater, entre outros. Renato Teixeira, com mais de 20 discos e três Grammy Latinos em sua trajetória, vive na floresta desde 1984. Para a filha e cineasta Antonia Teixeira, a mistura entre urbano e rural está não só na música do pai como na vivência da própria família e reflete muito na proposta da Casa na Floresta.
“É uma ponte entre o campo e a cidade. Ele fez isso com a música e acho que é por isso até que ele foi morar na serra. (…) E acho também que foi essa influência que ele quis trazer para a gente, de não ficar só na cidade. Isso começou já em 84 quando ele resolveu mudar para lá.”
Casa na Floresta e o contato orgânico com a natureza
Apesar de morarem na Serra desde meados dos anos 80, foi a partir de 2016 que o projeto da Casa na Floresta começou a tomar forma, com encontros esporádicos de amigos, exposições, eventos que aconteciam de forma orgânica… tudo na própria casa onde viviam. No ano passado, por exemplo, a Casa na Floresta organizou encontro de gastronomia (o Comida na Floresta), de música e até festa junina. Tudo em meio à mata e com o propósito de fazer com que as pessoas se conectem com esse espaço e desenvolvem uma relação de intimidade com a natureza.
Antonia nunca se sentiu completamente da serra, nem da cidade, e lembra como os amigos do urbano a chamavam de “pé de barro” sempre que descia da floresta. “Sempre fiquei nessa ponte e a ideia é fazer uma ponte mesmo”, ela conta. E é essa a ponte que a Casa na Floresta busca construir e apresentar para seus visitantes.
Para 2019, o plano é reestruturar a Casa, ampliar os projetos e este começo de ano está sendo o período das mudanças. A principal delas é a transferência de sede. Não mais na cada da família, agora o projeto terá uma própria casa, por onde já passaram Os Mutantes, banda liderada por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, símbolo do Tropicalismo.
Oficina de Tie Dye com Pat Martins (Reprodução/Instagram)
A proposta é dividir as frentes de atuação do projeto. O novo espaço terá um núcleo cultural onde será construído um museu contando a história da Serra da Cantareira para manter viva a memória de todas as transformações e pessoas que já passaram por ela. O segundo núcleo, coordenado por Lucio Tamino e Juliana Morari, terá como compromisso a educação ambiental e o redescobrimento da mata atlântica e suas plantas originais. Além disso, Tamino também desenvolve trabalho junto à comunidade com a colheita de pancs, as plantas alimentícias não convencionais. A Casa na Floresta ainda terá uma padaria artesanal, a Miolo, sob comando e parceria de Marcos Carneiro, além de também projetos sociais junto ao Bicho do Mato, grupo de nativos da Serra que compartilham os seus conhecimentos tradicionais. “Eles estão sendo capacitados com o que cada um tem de dons, porque o ser humano é muito único”.
Essa forma orgânica de criar, gerir e compartilhar saberes foi como surgiu a Casa na Floresta e o método possível para manter natural essa intervenção entre os povos da cidade e do campo. “Os ‘bichos do mato’ têm uma intimidade com a natureza ancestral até, porque eles nasceram na Serra”. Apesar de estarem há meia hora de São Paulo, Antonia conta que não é muito comum (nem fácil ou barato), que os nativos da Serra façam intercâmbio com a capital. Por outro lado, estão em um “contato absurdo” com a Mata Atlântica: “Eles têm uma coisa com a natureza muito legal, que é o que a gente está buscando como ser humano: voltar com essa conexão”.
Casa na Floresta e o conhecimento tradicional
Para Antonia, que também trabalha na finalização de seu documentário “A Ponte”, gravado em Alcântara no Maranhão, onde quilombolas lutam para proteger suas terras utilizadas para implantação de bases de lançamento de foguetes, temos muito o que aprender com a sabedoria dos povos originários.
“Tem um momento em que uma pessoa fala: ‘por que vou dar a minha terra para você lançar satélite se o que vocês estão buscando no final é o que eu já tenho aqui, que é subsistir da terra?’ (…) Hoje em dia somos grandes inventores. A gente calcula a distância entre duas galáxias, consegue fazer um acelerador de partículas que simula o momento inicial da manifestação do universo, mas na hora de evoluir como ser humano a gente fica estagnado, a gente parou no tempo dos egípcios. A gente só evoluiu tecnologicamente, por isso eu acho que o índio é a resposta.”
Oficina de plantio com o Projeto Sinergia como parte da programação do Natal Solidário. (Reprodução/Facebook)
Em abril, a Casa abrirá as portas para o I Encontro de Brasileiros Rurais Contemporâneos, entre os dias 15 e 21, em comemoração ao Dia do Índio. Será uma semana de vivências ancestrais, música, dança, artesanato, pescaria, além de exposição fotográfica, projeção e muita troca cultural. Estarão presentes comunidades Huni Kuin (Acre), Yanomami (Amazonas), Tuiuca (Amazonas), Munduruku (Tapajós), Guaranis (São Paulo) e Mehinako (Xingu).
O evento será dividido em duas partes. A primeira, dedicada às vivências, será do dia 15 a 19 com roda de mitologia brasileira, oficinas de tecelagem, pinturas corporais, fitoterapia, entre outras atividades. Já a partir de 19, será o festival aberto ao público, segunda parte do evento. Nessa, também ocorrerão as oficinas, além de shows, exposições, comidas típicas e vendas de artesanatos, encerrando a programação no domingo dia 21. O Festival ainda contará com a parceria de dois institutos, o Instituto Amor, que atua em comunidades indígenas ribeirinhas da Amazônia, e o Projeto Saúde e Alegria, que atua apoia processos participativos de desenvolvimento comunitário integrado e sustentável.
Para acompanhar essa e outras atividades, os próximos passos da Casa na Floresta, e também subir a Serra da Cantareira em busca dos conhecimentos da natureza, não deixe de segui-los nas redes sociais. O projeto mantém um perfil no Instagram e uma página no Facebook. A Casa na Floresta fica no município de Mairiporã, a 41 quilômetros ao norte da capital paulista. Imagem do banner de Lou Gaioto.
Gostaria muito de conhecer. Além de da de Renato Teixeira, sou apaixonada pelo Serra da Cantareira
Tomara que reabra logo!!!