Stand UPET | No mês passado, um grupo de amigos, universitários e ativistas ambientais se reuniu no Canal Marampendi, zona oeste do Rio de Janeiro, para um mutirão de limpeza que resultou em 287 garrafas PET e mais de 10 sacos de 100 litros de lixo retirados da natureza. Trata-se de uma das ações do Stand UPET, projeto que desde 2016 transforma garrafas PET em pranchas de stand up paddle.
O projeto surgiu em meio ao período de seis meses de greve da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), quando alunos em maioria do curso de Oceanografia, pensavam maneiras de se manterem ativos dentro da universidade. A inspiração veio do projeto Eco Garopaba, que também produz pranchas ecológicas em Santa Catarina.
Stand UPET: Artivismo, educação e conscientização
A ação que ocorreu no Canal Marapendi foi uma das diversas ações que o Stand UPET realiza pelo Rio de Janeiro. Além dos mutirões e limpezas de praias, o grupo também organiza atividades sociopedagógicas em escolas, está com residência-parceria no Aquário Marinho do Rio de Janeiro, e já cruzou estados para apresentar o projeto, realizar oficinas e compartilhar sua mensagem de proteção à vida marinha e ambiental em geral.
Do canal, em pouco mais de 150 metros e 1 hora de atividade, foram retirados ainda 210 caixas de isopor, 122 pedaços de plástico duro, 100 copos de bebida guaraná natural, 54 calçados, 17 latas de alumínio, 11 garrafas de vidro, 10 trapos de roupas e 4 sacos cheios de papel. Todo o material coletado foi separado e entregue à Companhia Municipal de Limpeza Urbana. Com a participação do artivista Pedro Cunha, parte do material foi utilizado para a construção de uma escultura. O artivismo é um ponto de encontro entre arte e ativismo, quando as expressões artísticas são utilizadas como manifesto para protestos políticos e sociais. Também, a ação abriu espaço para uma aula de expressão corporal e mentalização com uma instrutora de yoga do Espaço T’ai.
Gustavo Abrahim, aluno do 9o ano do curso de oceanografia e um dos organizações do Stand UPET, conta que as ações do grupo propõem pensar a sustentabilidade para além da ideia do consumo, mas promovendo hábitos e pensamentos sustentáveis: “A gente entende que esses momentos de conhecimento corporal são fundamentais para o bem estar das pessoas não só no momento da ação, e uma forma de relaxamento, para os que estão participando entrarem um pouco em si, respirar fundo, e promover a união. Então, uma ação de sustentabilidade é uma ação na verdade de educação, humanismo, de coisas que acreditamos e valores que parece que estão sendo deixados para trás mas que para nós é fundamental para uma vida de fato sustentável”.
Este mesmo pensamento se estende à iniciativa simbólica de construir uma escultura e levar para a ação um momento de produção de arte. Ele comenta a importância de relacionar a preocupação ambiental com todas as áreas do conhecimento: “O artivismo é o impacto e o diálogo a partir da arte. Entendemos como uma forma de passar a mensagem e atingir mais pessoas. Nossas ações são importantes, mas a ação do máximo de pessoas possível, no seu dia a dia, torna-se imprescindível”.
O Canal e Lagoa de Marapendi são um importante ponto do sistema lagunar da Barra da Tijuca, sendo parte do Parque Ecológico que pertence à Área de Proteção Ambiental Marapendi. Pela falta de uma limpeza muitas vezes adequada, são necessárias atuações de ativistas independentes na região, como o biólogo Mário Moscatelli, que também já realizou mutirões na região como já contamos em nosso blog. Na ação coletiva liderada pelo Stand UPET, estiveram também presentes os projetos Propósito 8, Reciclarte, + Trilhas e Vagalume O Verde.
Stand UPET ontem e hoje
Quando surgiu há quase 3 anos atrás, como contou Gustavo, o Stand UPET era um hobbie para driblar o ócio mas que tomou proporções maiores e demonstrou potencial. “Fomos convidados para uma feira de sustentabilidade e a partir daí fizemos alguns contatos e o projeto em si começou a surgir devagar”. Desse início, passaram a ver o potencial que a prancha tinha para tratar de questões que eles próprios já acreditavam, como o consumo, desperdício, reciclagem e reutilização de material. “Decidimos fazer por nós mesmos alguma coisa para inspirar os jovens e também vimos o nosso potencial como grupo, heterogêneo mas ao mesmo tempo com sinergia onde todos somam”.
Hoje a missão do Stand UPET é clara: reciclagem e preservação do meio ambiente por meio de ações diretas e educação ambiental. Com esse propósito estiveram no Maranhão, onde realizaram atividade com crianças e jovens da Fundação da Criança e do Adolescente; na Semana Nacional de Oceanografia, no Rio Grande do Sul; e mais recentemente em parceria com o Aquário Municipal do Rio de Janeiro, o AquaRio, onde estão desde dezembro e até o final de janeiro interagindo com 7 mil visitantes diários. “Temos nossas críticas, mas entendemos que ali foi e está sendo um canal importante de educação ambiental. (…) Não tem como falar de ambiente marinho sem falar de lixo marinho também, infelizmente. Então assim como o aquário está bem limpo ali, a gente tenta cutucar no quesito de que a realidade não é bem assim, e sempre com a questão de que é possível fazer a diferença cada um no dia a dia. Somos parte do problema como também podemos ser parte da solução. Inclusive, o AquaRio está sendo importante para aumentar a nossa rede de colaboradores”.
Para 2019, continuar a ampliar essa rede de atuação será a meta para o projeto, principalmente aliando sempre o ativismo ambiental com a educação e a arte. Além dos mutirões frequentes, principalmente na praia da Urca, onde o grupo tem base na zona sul do Rio de Janeiro, a vontade do grupo é estar cada vez mais dentro das escolas. “Levar um pouco do conhecimento científico, de oceanografia, produzido na Uerj e nas universidades, em uma linguagem acessível de maneira que a gente engaje outras pessoas a também abraçar uma causa e fazer o mesmo”. No final de 2018, estiveram pela primeira vez em uma escola da zona norte carioca, a convite dos alunos do terceiro ano do colégio ESC Olaria, e nesse começo de ano já realizaram atividades com as crianças do clube da Sociedade Hípica Brasileira e do Galpão Bela Maré, na favela da Nova Holanda.
“É o nosso grande foco daqui para frente conseguir levar nossas mensagens para locais mais à margem da sociedade, que normalmente são os que mais sofrem com a ausência do poder público… jovens às vezes em situações sociais em que normalmente não há muitas perspectivas, então as circunstâncias mostram para essas pessoas um mundo que as façam desacreditar de um futuro melhor, e a gente entende que temos uma responsabilidade quanto isso. A gente entende como um grande fruto que a gente pode e quer colher no futuro.”
Como colaborar com o Stand UPET
Ficou interessado no projeto? Para conferir todas as ações do Stand UPET, o método mais fácil é através das redes sociais, seja pela página do Facebook ou perfil no Instagram. É através desses canais que eles divulgam as atividades e por onde você pode tirar dúvidas e enviar comentários. Se você gostaria de oferecer algum apoio, parceria, ou convidar o projeto para o seu evento ou escola, envie um e-mail para [email protected]. Colabore também divulgando as ações, participando dos mutirões de limpeza, e compartilhando a mensagem da conscientização ambiental para mais pessoas.
A sustentabilidade é urgente e uma preocupação do agora. Como um recado final, Gustavo deixa clara a mensagem do Stand UPET: “é possível refazer e repensar nossos hábitos, o dia a dia, a vida que nos é imposta a ser vivida. É possível ressignificar o que as pessoas chamam de lixo e a gente de resíduo, e ver como uma oportunidade e uma matéria prima. É possível fazer diferente e se unir com pessoas, trabalhar em conjunto em prol de uma causa. É possível fazer acontecer o mundo que a gente acredita, viver da maneira que a gente quer viver, as diversas formas de se pensar. É possível sim e devemos nos engajar e fazer; ser sustentável no dia a dia, no pensamento e nas escolhas”.