Salve, Gloriosxs. Trazendo exemplos inspiradores de empreendedorismo sustentável e empregos constantes, escolhi uma vila, fundada nos anos 1920, onde a principal atividade ainda é a pesca. No extremo sul do nosso país, no município de Pelotas, se localiza a Colônia de São Pedro Z3- Ao longo dos anos, ela esteve presente em vários projetos envolvendo o artesanato. Um desses projetos foi o Redeiras, parte do programa Artesanato Mar de Dentro, há 10 anos.
A ideia de utilizar os dejetos da limpeza dos peixes foi de Ângela Maria, artesã pioneira na vila. Ela passou a criar peças reaproveitando as redes descartadas pelos pescadores. As mulheres, responsáveis pela limpeza dos peixes, foram capacitadas para o beneficiamento dos dejetos, experimentando técnicas diferentes de lavagem, tingimento e corte das redes, até transformá-las em novelos como se fossem fios.
As escamas e couro dos peixes também passaram por muitos testes para obter a melhor forma de limpeza e manejo. O projeto Redeiras foi uma forma de profissionalizar esse conhecimento, um resultado natural da união dessas mulheres.
Redeiras: união feminina em torno do reaproveitamento
Nessa empreitada, mais mulheres chegaram à vila, como a designer Karine Faccin e Rosani “Nika” Schiller, consultora do Sebrae (Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas), que até hoje acompanha as artesãs . A partir daquele ano, com o apoio de Ângela e das outras mulheres da vila, passaram todas juntas a estudar os próprios saberes da Colônia, capacitando as artesãs ao mesmo tempo que aprendendo com o conhecimento das mulheres mais velhas. Umas ensinando as outras até chegarem à primeira Coleção Redeiras, com biojoias e bolsas, reaproveitando as sobras da pesca.
Essa iniciativa inovadora rendeu o Prêmio Objeto Brasileiro, promovido por A Casa – Museu do Objeto Brasileiro, no 2° lugar da categoria “objeto de produção coletiva” à bolsa Lagoa dos Patos, dando autonomia e independência financeira ao grupo que hoje funciona como uma associação – A Associação das Artesãs Redeiras do Extremo Sul.
O desafio agora é buscar apoio em transporte para para coletarem redes em outras comunidades e assim, ampliar o volume a ser beneficiado.
Ao envolver toda a comunidade na busca pela rede, sua lavagem e beneficiamento dos restos de peixes, estão perpetuando uma tradição, além de fazerem uma economia circular na prática, gerando renda para outras famílias e comunidades.
Vale a leitura desse lindo documento contando as trajetórias das mulheres que começaram essa história, o Redes em Invenção. Produção: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Um beijo e até a próxima Quarta Gloriosa.