“NO ATO DE FOTOGRAFAR ESTÃO OS LIVROS QUE LEMOS E OS FILMES QUE VIMOS”
Por Julio Caldeira, da COMPOTA
“Sempre fui apaixonada pelo mar. Mais do que pelas praias, o mar me fascina”. Esse é um dos sentimentos por trás do olhar (e das lentes) da fotógrafa carioca Ana Carolina Fernandes, que já passou pela fotojornalismo (O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e Folha de S.Paulo) – a revista Time a citou em um artigo sobre os fotógrafos brasileiros do momento, daqueles que você tem que seguir no Instagram, (@culafernandes).
Entre seus registros – além da diversidade exuberante que toma sol nas praias do Rio de Janeiro –, há trabalhos com os travestis do bairro da Lapa (série Mem de Sá, 100) e quatro anos de cliques da Prainha (também no Rio), destino de surfistas e que ela pretende transformar em livro. A seguir, leia trechos da conversa que a fotógrafa teve com a equipe da Compota.
Você acha possível explicar o seu olhar?
Não conheço melhor maneira de explicar o olhar de cada um do que citando a célebre frase de um dos meus fotógrafos preferidos desde a minha adolescência, quando comecei a fotografar, o Ansel Adams: “Não fazemos uma foto apenas com uma câmera. Ao ato de fotografar trazemos todos os livros que lemos, os filmes que vimos, a música que ouvimos, as pessoas que amamos”.
Parece que você tem um interesse especial pela Prainha, no Rio. Por quê?
Sempre fui apaixonada pelo mar. Mais que as praias, o mar me fascina. Meu mapa astral é quase todo feito de água e sou filha de Iemanjá. Amo praias desertas e silenciosas. Amo água limpa. A Prainha faz parte da minha busca espiritual. Em nenhum outro lugar do Rio (talvez no Jardim Botânico, mas aí é a energia da terra) me sinto tão profundamente conectada a energia espiritual do mundo. E se não bastasse tudo isso, a Prainha tem a mística da luta de Davi contra Golias. Toda aquela área viraria um grande condomínio imobiliário, com resorts e prédios enormes. Os surfistas souberam, se mobilizaram e impediram a construção. Em 1999 a praia foi tombada e criaram o Parque Nacional da Prainha.
Acha que seria possível mostrar um cotidiano tão mágico – como você faz ao registrar a vida nas praias do Rio de Janeiro – caso você morasse numa cidade totalmente diferente, como São Paulo, por exemplo?
Realmente não sei dizer (risos). Eu já morei em SP. Amo a cidade. Gosto muito da beleza urbana de São Paulo. Mas acho que não importa onde eu morasse, acho que sim, eu registraria o cotidiano das praias do Rio, da mesma maneira. Acho que voltamos a tal da memória enraizada na alma. Tive desde sempre uma vida praiana, minha mãe adorava a praia. Meu pai e meu tio, Millôr Fernandes, tinham um “escritório” na praia. Ainda assim, tenho muitas críticas às praias do Rio. São (quase todas) poluídas, sujas, barulhentas e às vezes violentas…
Haverá algum lugar num futuro próximo onde pessoas possam conferir seu trabalho – além do próprio FotoRio? E é possível adiantar se você está envolvida com algum projeto?
Estou, depois de quatro anos, colocando o projeto “Prainha” numa lei de incentivo, para fazer o livro. Vou publicar também, de forma independente, o meu trabalho com as travestis da Lapa, o Mem de Sá, 100 – é difícil conseguir incentivo para esse tipo de tema. Talvez com uma tiragem pequena, 100 exemplares, para vender também de forma independente. Pelo Facebook e Instagram… Aí, em setembro vou a Cuba, o Papa estará lá e eu acho que vai ser um momento especial do país. Vou por minha conta e fotografar para mim. Estou usando muito o Facebook como o meu jornal. Vou tentar fazer uma crônica visual diária. E claro, mergulhar nas águas azul turquesa do Caribe!
Esperamos que tenham gostado!
Até a próxima!