Salve, Glorioses. Como diz o pedagogo Paulo Freire, “educação muda pessoas e pessoas transformam o mundo”. Com este raciocínio, o jovem líder do povo ashaninka (cerca de 1.900 indivíduos, no lado brasileiro) Benki Piyãko se empenhou em usar o conhecimento contra a invasão de suas terras e exploração predatória do meio ambiente.
A Aldeia Apiwtxa, na Terra Indígena Kampa, ao longo do rio Amônia (Marechal Thaumaturgo – AC) , se encontra em um município que tem 95% de seu território de área protegida. Mas, como a região faz divisa com o Peru, com a Reserva Extrativista do Juruá e com um assentamento do INCRA , mesmo depois da demarcação em 1992, estava vulnerável às invasões por madeireiros e caçadores de animais exóticos. Os Ashaninka (etnia datada do seculo XII, nômade, originária do Peru), com a demarcação, precisou resgatar o conhecimento “dos antigos” (sintropia) para tornar a terra sempre fértil. Em constante luta com todo tipo de invasão e a falta de conhecimento sobre manejo sustentável, que depreciava o viver das pequenas comunidades do entorno, eles decidiram compartilhar seus conhecimentos. Assim nasceu, em 2007, a escola de educação ambiental Yorenka Ãtame (“saberes da floresta”, na língua Aruak).
Numa área de 86 hectares de pasto, que está sendo totalmente reflorestada, a escola nasceu como resposta à missão deixada pelo avô de Benki, Samuel. Ele criou o neto desde os 2 anos e o nomeou guerreiro da vida, treinando-o como pajé. Seu sonho era que o neto ensinasse as práticas de manejo sustentável dos recursos naturais da região, unindo todas as pequenas comunidades que dividem a fronteira em um mesmo propósito – tirar seu sustento da terra, preservando a vida como um todo e dando suporte aos jovens e ao seu futuro.
Hoje os Ashaninka e o projeto Guerreiros Guardiões da Floresta são reconhecidos por suas iniciativas sustentáveis. São especialistas em manejo da floresta em pé, agro-reflorestamento, apicultura, piscicultura, coleta de sementes. Mais de 200 mil mudas já foram plantadas, gerando mais de 50 toneladas de alimentos para a comunidade ao ano. Além disso, parcerias com escolas, ensino de hortas urbanas, implantação de sistemas agroflorestais com os extrativistas do entorno, criaram uma verdadeira rede de apoio à floresta, promovendo diálogo e união entre índios, não-índios, moradores e administração da cidade e até turistas!
Esse esforço em conjunto rendeu a Benki Piyãko e Aldeia Apiwtxa o Prêmio Nacional de Direitos Humanos em 2004, por promover e divulgar a luta dos territórios indígenas e soberania do Brasil frente às invasões de madeireiras peruanas; Prêmio-E, em 2012, uma iniciativa da Unesco, do Instituto-E e da prefeitura do Rio de Janeiro, que reconhece iniciativas de desenvolvimento sustentável; em 2013, o Prêmio dos Direitos Humanos (Menschenrechtspreis, em alemão) da cidade de Weimar, pelo seus esforços no convívio pacífico entre os ashaninka e seus vizinhos brancos. A escolha do ganhador se deu a partir de uma recomendação da sociedade para povos ameaçados (gesellschaft für bedrohte völker, em alemão); e o Prêmio Equatorial da ONU, promovido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em setembro de 2017 .
Os ashaninka foram sábios ao escolherem a educação como arma. Apiwtxa está cada vez mais fortalecida nesse papel de multiplicadora de saberes e conhecimentos.
Um beijo e até a próxima Quarta Gloriosa!