Desde 1987, o Projeto Saúde e Alegria atua no coração da Amazônia e desenvolve junto a comunidades ribeirinhas programas de saneamento básico, direitos humanos, saúde, geração de renda, dentre muitos outros que contribuem para o exercício da cidadania e melhoria da qualidade de vida.
A iniciativa nasceu da união da arte educadora Márcia Silveira Gama e do médico sanitarista Eugênio Scannavino Netto, contratados em 1983 pela Prefeitura de Santarém, no Pará, e que passaram desde então a desenvolver ações tanto de assistência à saúde como educação, incorporando ambas as áreas.
Quatro anos depois, o Projeto Saúde e Alegria nasce perpetuando esses ideais e unindo parceiros em torno, como apoiadores da Unicef, Fiocruz e Universidade Federal do Pará. As atividades que já desempenhavam junto à prefeitura, como pesquisa, treinamento de voluntários locais (que inicialmente tinham o nome de “Patrulheiros da Saúde”), gincanas educativas e ações de conscientização quanto a desnutrição e mortalidade infantil, puderam ser ampliadas para além de Santarém, alcançando hoje comunidades ribeirinhas ao longo de quatro cidades do Pará: Belterra, Aveiro e Juruti.
Das 16 comunidades da zona rural de Santarém, inicialmente apoiadas no Projeto, hoje são cerca de 30 mil pessoas atendidas, em grande parte em situações de risco ou vulnerabilidade. Para isso, uma equipe técnica interdisciplinar visita regularmente as comunidades implementando cada um dos programas. Os temas são: ordenamento territorial, fundiário e ambiental; organização social, cidadania e direitos humanos; produção familiar e geração de renda; saúde e saneamento; educação, cultura, comunicação e inclusão digital.
“A arte, o lúdico e a comunicação são os principais instrumentos de educação e mobilização. Por meio de métodos abertos de construção multilateral do saber, adaptados ao universo cultural local, procura-se envolver todos os segmentos e faixas etárias, qualificando-os como multiplicadores – lideranças, produtores rurais, empreendedores locais, professores, agentes de saúde, grupos de mulheres, jovens e crianças.”
Programas
No âmbito do Desenvolvimento Territorial, o Saúde e Alegria tem como foco principal de atuação a defesa das terras tradicionais e regiões ameaçadas pela exploração ilegal de madeira e expansão do agronegócio. Assessorando lideranças locais, o Projeto resguarda o direito dos povos da floresta aos seus próprios territórios, fortalecendo as organizações. ” Apoiar as bases locais é colaborar no controle social das politicas públicas, na defesa de suas terras e no bom manejo de seus recursos naturais para que possam ter viabilidade econômica, social e ambiental de suas áreas.”
O Mapeamento Participativo é um dos programas, desenvolvido juntos às comunidades locais, capacitando seus moradores ao conjunto de tecnologias de coleta, tratamento e visualização de dados de Geoprocessamento, para que as próprias comunidades construam os mapas de onde moram, podendo assim monitoras a sua manutenção. A Gestão Comunitária também é uma iniciativa presente nas atividades do Saúde e Alegria, elaborando Planos de Desenvolvimento Local junto a comissões locais, possibilitando a criação de associações comunitárias e ampliando o senso de cidadania.
Ainda pensando território, o Floresta Ativa Tapajós é outro conjunto de práticas que visa gerar benefícios diretos às comunidades tradicionais, promovendo na região do Tapajós “o manejo sustentável da floresta, fortalecendo cadeias produtivas e empreendimentos agroecológicos voltados para conservação ambiental, reposição e restauração florestal, que reduzam o desmatamento e as emissões de CO2, validando junto às esferas públicas tecnologias socioambientais passiveis de replicação, como referencias para orientar politicas e estratégias para Amazônia proporcionando aos agroextrativistas inclusão social, qualidade de vida e renda”.
O Floresta Ativa Tapajós engloba o Centro Experimental Floresta Ativa – CEFA, pólo de referência para o desenvolvimento de tecnologias socioambientais; ações de agroecologia e reposição florestal; capacitação e assistência técnica rural, fortalecendo a produção, a gestão e a comercialização de produtos da agricultura familiar; arranjos socioprodutivos e agroflorestais, incluindo as comunidades no mercado de produtos da sociobiodiversidade, com a adequada repartição de benefícios; e o eixo de ações socioambientais integradas e complementares, promovendo “a educação ambiental e comunitária, apoiando os talentos e capacidades individuais e coletivas, favorecendo a ampla participação e mobilização dos moradores na conquista de sua cidadania e qualidade de vida no território em que vive”. Para sua realização, o Floresta Ativa conta com recursos do Fundo Amazônia, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Na área da saúde, a ação do Saúde e Alegria é ainda mais intensa, tendo sido deu ponto de partida. O difícil acesso, baixo investimento e populações dispersas são algumas das causas para que o seaneamento e sistema de saúde fossem insuficientes para as comunidades ribeirinhas, sendo um desafio ainda hoje. O foco primeiro do Projeto foi levar o acesso à saúde dos grandes centros urbanos para dentro da floresta, possibilitando o amplo atendimento.
Desde 2006, deu início a uma iniciativa revolucionária: o navil-hospital Abaré, que promove assistência regular para mais de 15 mil ribeirinhos do Tapajós, se tornando política pública nacional desde 2010. Com o serviço, mais de 70 comunidades passaram a ter acesso aos serviços básicos de saúde, com visitas mensais. São esses:
“Saúde da família; planejamento familiar; saúde da criança e imunizações; consultas pré-natal; saúde da mulher, com exame preventivo do câncer de colo uterino; saúde oral; atendimentos médicos e exames de rotina; atendimentos de emergência; pequenas cirurgias.”
Em 2017, o Abaré torna-se não só um barco-hospital como também um barco-escola, promovendo ensino, pesquisa e extensão em apoio ao Instituto de Saúde Coletiva (ISCO) da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Além dos mais de 25 prêmios, a iniciativa foi replicada, tendo como fruto um segundo barco-hospital, o Abaré II, ampliando ainda mais sua atuação.
No campo dos Empreendimentos Sustentáveis, o Saúde e Alegria também potencializa o Artesanato da Floresta, projeto com mais de 100 artesãs que mantém vivo o trançado de fibras tradicional entre mulheres caboclas e indígenas; o ecoturismo e também as energias renováveis, que já levou a energia solar para residências de moradores da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, implantando sistemas de energia fotovoltaica.
Pensando educação, o Circo Mocorongo é uma ação pioneira, encenando o folclore e as lendas do povo ribeirinho. “Nas visitas às comunidades, educadores e moradores discutem os conteúdos por meio de brincadeiras, dinâmicas de grupo, jogos de cooperação. O resultado é construção de materiais pedagógicos, esquetes, músicas, poesias e apresentações teatrais, culminando num espetáculo ao final das programações, representativo do aprendizado e da difusão dos conteúdos com a própria linguagem comunitária”.
Outra ação que visa o infantil é o Crianças da Amazônia, que promove a educação popular em favor dos direitos das crianças e adolescentes, por meio de seminários para discutir os problemas relacionados à infância e planejar ações de prevenção e controle social, além de formar agentes multiplicadores por meio de oficinas temáticas, com pessoas das próprias comunidades.
Outro desafio é impulsionar que os jovens construam projetos de vida e encontrem oportunidades de inclusão no mercado. Para isso, outra frente que o projeto atua é no empreendedorismo, promovendo os Festivais “Beiradões de Oportunidades”, “projeto de formação de empreendedores que incentiva, capacita e empodera jovens para que gerem e implementem — inclusive com acesso às tecnologias — novas soluções e oportunidades para a transformação de suas vidas e do seu entorno comunitário”.
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