pensemos em nossa jornada de nascimento — ritual de chegada ao planeta terra, nenhum ser humano está livre da necessidade de nascer — foram nove meses de espera em bolsa de água: o ventre, lugar de absoluta segurança e aconchego, nunca estivemos em lugar tão protegido: além do contato simbiótico com a presença daquela que nos guarda, nossa protetora, nossa loba: mãe.
o que nos guia e nos mostra que o mundo não é tão estranho e que não estamos sozinhos é, antes de tudo, a voz. a voz da mãe é tudo o que conhecemos do mundo.
a voz da mãe é nosso primeiro sinal, nossa primeira mensagem de que existe um mundo afora, um mundo para o qual estamos sendo gestados:
a voz garante a esperança de que há algo de seguro por ali
a voz da mãe é o que chamamos de primeiro acolhimento, primeira presença, primeira vida: a voz que anuncia terra.
terra: desejos versus necessidades
nada mais solitário que um bebê em seu berço: tudo de que o bebê recém-chegado ao berço precisa é alimento, descanso, higiene e proteção. é aqui nosso primeiro contato com o elemento terra: a necessidade de sobrevivência.
sobreviver mais que existir: este bebê sobrevive, ele ainda não sabe que existe, não tem consciência de si,
apenas respira e emite sons de choro para reclamar algum alimento ou calor.
é na figura do bebê que mora nosso instinto, canal de necessidades básicas:
um bebê não deseja leite, ele necessita de leite
a terra é símbolo de vida, é o planeta em que vivemos, onde criamos e deixamos história. nosso corpo físico, por exemplo, é uma manifestação da realização terrena, e é no corpo físico que eclodem os sinais de nossas emoções: o corpo é o berço do eu.
no elemento terra, encontramos, portanto, tudo aquilo de que necessitamos para manutenção da vida, e sabemos que nossa necessidade de sobreviver vem muito antes da nossa capacidade de desejar.
um dos conflitos básicos do elemento terra em nossa jornada
é confundir desejos com necessidades
quanto custa a sua felicidade? muitas vezes, nos vemos tristes e experimentamos angústias por não termos o padrão material, que, em nossa idealização infantil, deveríamos ter para sermos aceitos e garantirmos o amor e a atenção daqueles que amamos.
a matemática da terra é bem simples: e se baseia no estudo de nossas necessidades de sobrevivência: sintetizadas nestes quatro pilares: fome, frio, sede e medo. e se você trabalhasse apenas para suprir esses quatro pilares?
terra, a capacidade de servir
terra é trabalho, é produção, é sustento: que, em síntese, é ou deveria ser o fundamento do servir.
o serviço desinteressado é o grande pilar do elemento terra:
quando trabalhar para meu sustento estiver alinhado com o princípio de colocar meus dons e talentos a serviço,
a resposta é imediata, e o canal bastante fluido.
geralmente, as pessoas se perguntam por que o trabalho é tão maçante, este símbolo de autossacrifício: vivemos uma grande distorção do que é trabalho em nosso planeta.
trabalhamos muito e sem nenhum propósito. cremos que a rotina de trabalho deve ser dura e coerente e sonhamos com uma realidade estável e bem disciplinada: com tudo em ordem, queremos o certo, o seguro.é, por outro lado, na terra que encontramos qualidades como paciência e persistência, foco e determinação: pessoas de muita força produtiva, dedicadas a manter aquilo que iniciam. a sabedoria do tempo está na terra, assim como a sabedoria da espera está na água — não à toa, opostos complementares.
a terra e o medo do novo
em nome da busca pelo certo, pela coerência e linearidade: descartamos o chamado pelo novo. evitamos a mudança. nos reduzimos àquilo que temos como conquista e morremos em nome de nossas certezas: todo lugar de certeza é lugar de morte.
terra é tempo
é árvore
é raiz
o amortecimento é uma conquista do medo, e a tendência à inércia e à paralisação são sintomas do excesso de proteção e defensividade: causadas pela distorção do elemento terra.
amortecimento em maior ou menor grau é gerador de alienação, ou falta de vida, ou desconexão: razão de queda de disposição e tristeza profunda, aparentemente sem razão:
‘por que eu estou triste se eu tenho tudo?’;
‘deveria ser grato, mas estou triste’.
ouso dizer que toda a insatisfação pode ser aliviada com um passo novo: mu-dança. a sabedoria da terra é nos prover infinita estabilidade para mudarmos quando e quantas vezes quisermos.
a imagem do berço, lembrança estática de proteção, pode ser atualizada e expandida na vida do eu adulto, o berço passa a ser o planeta: e eu posso ir e vir, na confiança de que serei escutado e atendido em minhas necessidades.