Dia Nacional da Consciência Negra: Vamos falar de Marielle Franco?
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Dia Nacional da Consciência Negra: Vamos falar de Marielle Franco?

Dia Nacional da Consciência Negra: Vamos falar de Marielle Franco?

Marielle Francisco da Silva foi uma socióloga, mestra em Administração Pública e quinta vereadora mais votada nas eleições de 2016 do Rio de Janeiro. Seu mandato, previsto de 2017 a 2020, foi interrompido na noite de 14 de março de 2018, quando seu carro foi abordado com 13 tiros no bairro do Estácio. Marielle Franco e seu motorista, Anderson Pedro Mathias Gomes, saíram do episódio sem vida. Até hoje, 8 meses depois, o caso permanece sem solução.

Reprodução/Facebook (Foto: Francisco Proner – FARPA)

A luta de Marielle Franco

Marielle foi eleita vereadora com 46 mil votos, após 10 anos de atuação direta na política em apoio ao deputado Marcelo Freixo, ambos da legenda do PSol. Antes disso, Marielle já carregava um histórico de luta pelos direitos das populações mais pobres, dos trabalhadores e pela paz nas comunidades do Rio de Janeiro.

Marielle nasceu em julho de 1979 e cresceu em uma das favelas do Complexo da Maré, Zona Norte da capital fluminense. Marielle teve criação católica e desde muito nova trabalhava com os pais como camelô, profissão que deixou aos 18 anos para trabalhar em uma creche. Foi neste mesmo Complexo que ingressou no pré-vestibular comunitário, e onde também viu uma de suas amigas morrer por bala perdida. Entrou na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro para cursar Ciências Sociais e deu início ao seu trabalho pelos direitos humanos.

Marielle era negra, mãe, LGBT, da periferia, e todas essas bandeiras estavam presentes em seu discurso. Passou por instituições sociais até assumir a coordenadoria da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), onde atuou diretamente no auxílio a civis, policiais e familiares vítimas da violência. Essa experiência foi base para sua dissertação de mestrado: “UPP: a redução da favela a três letras”. O título foi obtido pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Reprodução/Facebook

Em pouco mais de 1 ano de mandato (de janeiro de 2017 a março de 2018), Marielle foi autora de 17 projetos, todos voltados para áreas sociais. Dentre eles estão o Espaço Coruja (PL 17/2017), programa de acolhimento às crianças no período da noite, enquanto seus responsáveis trabalham ou estudam; o Dossiê Mulher Carioca (PL 555/2017), para auxiliar a formulação de políticas para mulheres através de dados da Saúde, Assistência Social e Direitos Humanos do Município; além do Assédio Não É Passageiro (PL 417/2017), que cria a Campanha Permanente de Conscientização e Enfrentamento ao Assédio e Violência Sexual nos espaços públicos e transportes coletivos; e do projeto de Efetivação das Medidas Socioeducativas em Meio Aberto (PL 515/2017), que prevê que o Município garanta que as medidas socioeducativas do Judiciário sejam cumpridas pelos adolescentes em meio aberto. Todos esses aprovados em discussão no último dia 14 de agosto e aguardando posição da Prefeitura. O primeiro sancionado foi o projeto Dia de Thereza de Benguela no Dia da Mulher Negra (PL 103/2017), que oficializa homenagem à líder quilombola símbolo de resistência do movimento negro.

Marielle também teve duas atuações importantíssimas no cenário político carioca. É dela o projeto de lei das Casas de Parto (PL 0265/2017), que estimula a ampliação do número de casas de parto na cidade, qualificando profissionais para atendimento obstétrico humanizado e partos sem trauma ou violência médica. Outro destaque foi sua atuação enquanto Presidente da Comissão da Mulher da Câmara e também da comissão que fiscaliza a Intervenção Federal no Rio de Janeiro, principalmente em proteção às mulheres vítimas de violência.

Marielle Presente

Marielle lutava por ampliação da participação feminina na política. Também tinha como bandeira a luta pela população negra e pobre do Rio de Janeiro, atuando fortemente no amparo às vítimas de violência. Sua posição era de extrema defesa das camadas populares e das minorias, e enfrentava forte resistência nos ambientes mais conservadores da política. Seu assassinato interrompeu sua vida, mas não os seus projetos.

No último dia 14 de novembro, sua dissertação de mestrado tornou-se livro. “UPP: a favela reduzida a três letras – Uma análise da política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro” foi lançado no Plenário da Câmara Municipal, onde atuou no breve mandato. No próximo dia 29, a Câmara também concederá a Marielle Franco o diploma Mulher-Cidadã Carlota Pereira, honraria oferecida pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher às mulheres que contribuem com a cidadania e defesa dos direitos. O evento será às 9h, no Plenário Ulysses Guimarães; praça Jardim Floriano, Centro do Rio de Janeiro.

Fora do país, o nome de Marielle apadrinha bolsa de estudo na Universidade Johns Hopkins, Estados Unidos. O Programa de Estudos Latino-Americanos (LASP) da Escola de Estudos Internacionais Avançados (SAIS) oferecerá a Bolsa Marielle Franco anualmente a alunos do mestrado que pesquisem justiça social e representação política.

Malala em Tavares Bastos, Rio de Janeiro. (Foto: Ana Luiza Marques)

Neste Dia Nacional da Consciência Negra, não poderíamos deixar de homenagear Marielle Franco. Para que sua história permaneça viva e os seus sonhos por um mundo mais humanitário compartilhados. Marielle foi uma das incontáveis pessoas negras que contribuíram com a história do nosso país, e que sua voz não seja interrompida. Marielle presente.


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