Mães: Ser uma é padecer no paraíso
Quarta Gloriosa

Mães: Ser uma é padecer no paraíso

Mães: Ser uma é padecer no paraíso

Quando li essa frase pela primeira vez numa revista feminina, ainda não tinha filhos. Tendo apenas 12 anos, tive certeza de que a frase estava com a pontuação errada e a interpretei como uma pergunta, não como uma afirmação. Avançando, na adolescência, achei que ela estava relacionada ao sofrimento das dores do parto natural, ou ao do pós-parto, em caso de cesariana, pelo qual as mães obrigatoriamente passam, antes de ter seus bebês em seus braços.

Vida sendo vivida, minha primeira filha nasceu e eu reinterpretei a tal frase. Sim, porque, sendo mãe passei a sentir que realmente o paraíso de viver a maternidade esbarra o tempo todo no que é padecer: no pouco repouso causado pela amamentação, momento único e mágico, quando os olhos se miram intensamente, no tratamento dos ferimentos causados por brincadeiras ou pela vida. O padecimento materno se dá muito através do sofrimento dos filhos. Mas não é só isso.

Há mulheres que são capazes de tudo para poder gerar uma criança e se tornarem mães. Nesse caso, penso muito em minha mãe.

Quando nasci ela tinha 40 anos. Passou a gestação toda de cama, por conta de um acidente em que fraturou duas vértebras de sua coluna. Abortar teria sido uma saída…não se sabia se ela teria ou não condições para enfrentar a gestação, acamada, ou se o bebê sobreviveria. Imagino todas as questões que devem ter surgido naquele momento, até porque meus pais já tinham uma filha, a Linda, então com nove anos. Felizmente, tudo correu bem e fomos boas companheiras nessa vida!

Não posso deixar de falar nas mães que encontraram seus filhos fora de suas barrigas, padecendo a incerteza da busca e os obstáculos superados até o paraíso do encontro do filho sonhado. Quantos momentos mágicos e especiais, permeados de dores e sofrimento…

Mães e filhos: amor infindável

Ah, Vinícius de Morais…! Não invoco o nosso grande poeta por ele ter sido “o homem que amava as mulheres”. Não por isso! Mas sim, por seu Poema Enjoadinho – 1960.

Filhos…  Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete…
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos?  Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los…
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

Outro dia, uma amiga psicóloga me disse que tenho boa autoestima e acredito que a influência foi de minha mãe: ela me quis!

Obrigada, mãe!

Beijos,

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