Fruta feia ou fruta bonita?
Atitude Bemglô

Fruta feia ou fruta bonita?

Fruta feia ou fruta bonita?

Como você escolhe os seus alimentos? Quando está pelo mercado e precisa escolher uma verdura, um legume ou uma fruta, o que te faz decidir? Tocamos, cheiramos, mas principalmente olhamos em detalhes para ter a certeza de que aquele alimento está em boas condições, mas podemos nos deixar enganar. Se for uma fruta feia, por exemplo, você leva?

Como em uma fábrica, a lógica do mercado de frutas, verduras e legumes é o da padronização: produtos em igual tamanho, cor, textura e sem qualquer tipo de rasura em sua aparência. Uma lógica que em nada tem a ver, necessariamente, com sua qualidade enquanto alimento que não somente estética. O padrão estético é um dos motivos para que, ao ano, cerca de 1.3 milhão de toneladas de alimentos sejam descartados em todo mundo. Em toda a América Latina, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 127 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçados ao ano.

O desperdício não só atenua a fome do mundo, pois  as toneladas desperdiçadas somente na América Latina seriam suficientes para alimentar 300 milhões de pessoas, por exemplo, mas também agrava uma situação de desperdício de recursos, considerando que todo o esforço ambiental para a produção destes alimentos descartados também está sendo desperdiçado: gasto com água, solo, poluição com seu transporte, etc.

Parte da responsabilidade por tamanho desperdício está na logística do mercado alimentício, como o tempo de armazenamento e transporte que estes alimentos levam até chegar na mão do consumidor, como o chamado padrão de qualidade estético que elimina das prateleiras alimentos não padronizados independente de sua qualidade nutritiva, e também dos próprios consumidores que não são educados a consumirem alimentos que superficialmente apresentam imperfeições.

Sobre o Projeto Fruta Feia

Ao redor do mundo, grandes instituições desenvolvem projetos em prol da produção e consumo mais consciente, mas pequenos projetos locais também são responsáveis em reverter esse quadro e eficazes por atuarem diretamente com o consumidor final. Um desses projetos é o Fruta Feia, uma cooperativa portuguesa que trabalha a coleta e comercialização de frutas, legumes e verduras que seriam descartados das produtoras. Com o slogan “gente bonita come fruta feia”, a organização já contribuiu com 1.013 toneladas a menos de alimentos desperdiçados em Portugal em 4 anos de funcionamento.

A cooperativa possui uma rede de agricultores associados, de quem compra os alimentos que seriam jogados no lixo na triagem de padronização, e revende cestas com verduras, legumes e frutas variados a um preço inferior do que cobrado nos grandes mercados.

Isabel Soares, o nome por trás da iniciativa, conta ao Clube Orgânico: “Começamos com apenas 1 funcionário, 10 agricultores, 100 associados e 1 ponto de entrega em Lisboa, evitando já nesse primeiro dia cerca de 500Kg de desperdício. Hoje, somos 8 funcionários, 120 agricultores, mais de 3 mil consumidores espalhados em 7 pontos de entrega entre Lisboa e Porto”.

No Brasil, não há um projeto com a mesma dinâmica do Fruta Feia, mas outras iniciativas movimentam o combate ao desperdício, como pontua Antônio Soares, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), ao Brasil Econômico: “Há iniciativas semelhantes como sacolões volantes que vendem as frutas e hortaliças que estão fora de padrão de comercialização mas possuem qualidade e segurança alimentar para serem consumidas.Estes sacolões volantes vendem frutas e hortaliças para comunidades com baixo poder aquisitivo, por preços mais em conta, com a meta de reduzir perdas ou desperdícios dos produtos aptos ao consumo humano. Os bancos de alimentos também fazem este papel”.

Ações contra o desperdício no Brasil

No Rio de Janeiro o Serviço Social do Comércio (Sesc) possui um Banco Sesc de Alimentos que promove uma ponte entre doadores e instituições de caridades, serviço similar ao realizado pelo Banco de Alimentos da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).

Assim como pontuado pelo pesquisador da Embrapa, tais iniciativas estão crescendo cada vez mais nas prefeituras pelo país. Outra iniciativa que facilita doar como receber alimentos que seriam descartados é o aplicativo Comida Invisível, que une agricultores, restaurantes e supermercados a projetos sociais em uma ação coletiva contra o desperdício. Todo o processo de doação, como escolha dos produtos, quantidade e retirada é feito pelo próprio celular. A nível nacional, a organização sem fins lucrativos Save Food Brasil também atua com organizações, empresas e produtores neste mesmo combate.

Para além das instituições sociais e grandes produtores, a mensagem que precisa ser compartilhada é a de que nós, individualmente, também temos nossa parcela de responsabilidade no desperdício de alimentos e fome no mundo. 30% dos alimentos que produzimos no mundo vai diretamente para o lixo.

Um terço do que consumimos dentro de nossas casas também. É preciso ter um novo olhar para o nosso consumo, aprender a reaproveitar os alimentos, apoiar os sacolões e bancos de alimentos que seriam descartados. É um processo de reeducação alimentar consumir aqueles que não são do mesmo tamanho ou cor, comprar os alimentos que estão próximos do vencimento, mas ainda em perfeitas condições de consumo e que geralmente já estão mais baratos justamente para este incentivo.

Busque em sua cidade o sacolão ou banco de alimentos mais próximos e contribua mesmo que minimamente nesta causa.

 

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